— Você não deveria mexer a mão nesse estado em que elas estão — disse Yehan. Talvez isso piore a situação.
Elodin parou de se mexer no mesmo segundo, não por achar que o meio-elfo estava com a razão, mas por impaciência de ficar esperando alguma coisa acontecer.
— O que eu não deveria era ficar esperando o Lerry aparecer com aquele bicho chifrudo.
— E o que exatamente você procura? — disse Artemis.
— Qual falha ou imperfeição — disse Elodin, voltando aos seus afazeres — Talvez um pouco de ferrugem que nós pudéssemos explorar para quebrar as grades.
Ele dizia isso, mas, assim como os outros, ele mesmo não tinha esperanças de encontrar qualquer falha naquelas barras grossas de aço. Três fazendo o mesmo trabalho ao lado de Lerry e ele nunca havia visto nem uma tentativa de fuga daquela ala.
Apesar dos esforços em vão, Artemis decidiu que era melhor começar a fazer alguma coisa a respeito para sair dali, em vez de ficar apenas sentado conversando. Se não encontrassem nada, pelo menos o fazer alguma coisa em si já bastava para livrar sua cabeça de pensamentos desagradáveis, o que só aumentava à medida que o tempo ia se passando e a hora da morte se aproximava com o final da tarde.
Artemis se aproximou das barras ao lado de Elodin, procurando por alguma coisa que ele não sabia exatamente o que era. Nunca havia estado preso antes, e em seus anos de estudo, nunca precisara saber como era o mecanismo de tranca de uma porta. Especialmente da porta de uma prisão.
— Posso fazer isso sozinho? — disse Elodin.
Artemis suspirou impaciente e se sentindo mal agradecido, mas deixou que Elodin continuasse seu trabalho sozinho. Os outros olhavam calados e reparavam na antipatia de Elodin enquanto ele concluía que não havia nada que pudesse os ajudar a arrombar a porta da cela.
— Não adianta — disse Elodin, encostando-se às barras e se sentando no chão de palha — É inútil. Eles costumam trocar as barras de aço com certa freqüência. Nossa única chance de fazer alguma coisa para escapar daqui é esperar até o Lerry vir aqui e a gente encontrar uma forma de derrubá-lo, creio eu.
— Mas ele vai vir acompanhado daquela criatura horrível — disse Argos.
— E você não pode se esquecer que não são apenas os dois que estão aqui dentro — disse Artemis — E estamos desarmados, ainda que estivéssemos armados, não faria diferença alguma.
— Agora há pouco você estava procurando um meio de abrir a grade, agora está falando que não existe um meio de sair daqui — disse Elodin — Lerry!
Os outros, que haviam pensado que a ladainha de Elodin havia acabado se enganaram. Subitamente ele se colocou de pé novamente e recomeçou a gritar pelo carcereiro. Elodin, dessa vez, não parou tão cedo.
— Lerry! — berrou uma voz vinda de alguma cela à esquerda, mais ao fundo no corredor — Lerry!
— Lerry! Lerry, quero água — disse outra voz, dessa vez mais próxima da cela deles.
A gritaria começou, e em menos de um minuto todos os prisioneiros estavam promovendo uma algazarra que nem mesmo Elodin havia visto acontecer ali antes. O arqueiro se calou e olhou para seus companheiros de cela com um sorriso sinistro no rosto que os outros não entenderam. Não era o que ele estava pretendendo, mas já era alguma coisa.
— Selvagens — disse Artemis. O tom de desprezo na voz era evidente.
— Provocação é uma arte — disse Elodin. Ele se lembrou dos momentos que precediam o início os combates dos quais participou pelo rei, antes de ser taxado como traidor. Lembrou-se dos corajosos que quebravam a formação, caminhando até o centro do espaço entre os dois exércitos que se encaravam e fazia todo tipo de provocação contra os inimigos. O exército que ataca primeiro perde a vantagem de manter a posição.
Argos teve o mesmo pensamento que Elodin, quando na linha de frente, começavam a bater as espadas contra os escudos para fazer barulho e assustar o inimigo. Argos gritou palavrões, xingou Lerry de todas as formas que conseguiu imaginar e a sacudir as barras de aço, tentando fazer o máximo de barulho possível.
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