— O que o traz a essa cela? — disse Argos, depois de um tempo absorto em pensamentos enquanto a sala mergulhava em silêncio.
— Eu tive meus problemas na minha terra — disse Artemis. Ele iria completar alguma coisa a mais, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, quando abriu a boca para falar, Elodin gritou por Lerry.
Elodin gritou incansavelmente por alguns minutos até que o carcereiro entrou em seu raio de visão em frente à cela. O aleijado recuou dois passos, receoso de que o grandalhão fosse fazer alguma coisa com o machado que trazia na mão direita. Na esquerda ele carregava um farrapo de gente pelo colarinho, que o seguia sendo arrastado pela mão forte de Lerry.
Lerry não era exatamente um homem que se possa taxar de gigante, mas era mais alto do que a grande maioria das pessoas. Era calvo, e os poucos cabelos que lhe sobravam eram ruivos e ralos. Ele costumava esboçar um sorriso simpático acentuado pelos dois dentes separados na frente da boca. As pessoas riam pelas costas dele por causa dos dentes, mas Lerry tinha plena certeza de que seus dentes separados eram um charme incomum.
— Todo mundo na parede — disse ele.
Com alguma resistência, Argos se levantou e virou-se para a parede em que estivera encostado esse tempo todo. Artemis soltou um suspiro impaciente, dando a entender que não faria nada para escapar enquanto Lerry atirasse o novo prisioneiro para a cela. Apesar da sua impaciência transparente, o carcereiro não moveu um único dedo enquanto não estivessem todos com as mãos na parede oposta às barras de aço.Elodin, contudo, não saiu do lugar e continuou encarando aquele que um dia foi seu amigo e companheiro de trabalho naquela masmorra.
— Elodin — cansado, Lerry pediu a ele. O carcereiro soube, desde quando recebera ordens de prender o amigo, que teria aquele tipo de problema a partir do momento em que o prendera naquela cela. Elodin sempre fora o valentão do pelotão e o mais impetuoso, sendo às vezes estúpido em certas ocasiões. Ele não se surpreendia de agora estarem em lados opostos do cárcere.
— Elodin — ele repetiu — Parede.
— Você me conhece, Lerry — disse Elodin, sem sair do lugar — Eu não fiz nada. Alguém infiltrado passou todo mundo para trás e nos acusaram injustamente.
— Você também me conhece e sabe que fui treinado para ignorar esse tipo de ladainha.
— Eu não me importo para quê você foi treinado — disse Elodin, agora impaciente e cheio de raiva — Eu vou sair daqui passando por cima de você.
Elodin continuou encarando o carcereiro, esperando um dos sorrisos maliciosos e arrogantes de Lerry, mas se surpreendeu ao receber uma resposta seca e séria.
— Você sabe que não pode passar por mim — disse ele — Parede. Agora!
— Ou o quê? Vai me prender numa cadeira outra vez? Porque é só assim que consegue bater em alguém?
— Eu lhe corto o dedão — Artemis esboçou um sorriso e escondeu o rosto ao ouvir aquilo.
— Eu não vou sair daqui — dito isto, Elodin se aproximou das barras novamente e ofereceu o rosto a Lerry.
— Nesse caso — disse Lerry, ficando impaciente — eu acho que é um momento propício para você conhecer o nosso novo amigo.
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