Esse não é um texto conclusivo. Se vocês esperam um atestado ao final dele, esqueçam e podem parar de ler ainda agora.
De um mês pra cá eu dei uma passada rápida de 3 dias em BH. Fui de guia com um amigo que não sabia o caminho e não sabia andar lá dentro de carro. Ele tinha uma festa de 15 anos pra fotografar com a namorada e me pediu auxílio pra levá-lo até lá.
De um mês pra cá eu dei uma passada rápida de 3 dias em BH. Fui de guia com um amigo que não sabia o caminho e não sabia andar lá dentro de carro. Ele tinha uma festa de 15 anos pra fotografar com a namorada e me pediu auxílio pra levá-lo até lá.
Fomos na sexta, sendo a festa no sábado à noite e nós voltaríamos no domingo depois do almoço. Eu não fui fotografar com eles, e nesse meio tempo eu fui ficar na casa de uma amiga porra-louquissima que mora (adivinhem aonde!) no Maletta.
Na casa dessa amiga, nenhuma surpresa: pelo fato de eu conhecê-la, sabia que encontraria um ambiente assim. Pensei numa casa que foi revirada no ar 57 vezes por um tornado. Não, a casa dela não é assim. É muito pior. Mas falando como fotógrafo, eu poderia muito bem ter levado minha câmera e ter fotografado as coisas que eu vi. Descrever não basta. Caminhar pela casa dela era como andar num pântano (quem já andou num pântano sabe do que eu falo), você tem que olhar onde pisa ou pode acabar pisando em algo que te atrevessa o pé, ou algo que não sustente o seu peso e te joga no chão, ou em algo que te puxe para a fossa.
Ainda na sexta à noite, essa minha amiga me arrastou para os movimentos groupies e hipsters das quais ela frequenta tanto. Me senti um tanto quanto deslocado no meio de tantas pessoas que por algum motivo se vestem diferente do que o padrão taxado como "normal" pela sociedade. Me senti deslocado não por estar num lugar diferente com pessoas com as quais não tenho o costume de passar o dia ou a noite, mas sim pelo fato de sentir que aquelas pessoas ali, sendo diferentes ou não, faziam tanta força de estar dentro do "fora do padrão" que incomodava.
Sim, de fato eles eram diferentes. Cabelos sem lavar, blusas e calças xadrezes, óculos gigantes e arredondados de grau, tênis e calças aos farrapos, cigarro na boca e lata de cerveja na mão, tudo formando uma mistura singular que era uma espécie de fermentação entre o emo, o hippie de outrara com uma pitada leve, mas perceptível, do grunge dos anos 90 regado à MPB em toda a sua complexidade. Rebeldia sem causa em todos os aspectos. Não eram diferentes porque simplesmente o eram, mas sim porque queriam ser diferentes.
O fato de quererem ser diferentes não era o problema em si. O problema jazia no fato de que o movimento acabou se tornando mais um daqueles que perdem o sentido quando se tornou uniformizado. O que eu notei foi que para quem é de dentro, eles podem se achar à margem da sociedade dita "normal" e serem os "alternativos que promovem a cultura". Mas para quem é de fora, como assim eu o era lá, eles não passavam de uma multidão de pessoas subdividas em 25 grupinhos uniformizados que nada de novo promoviam além de ouvir MPB enquanto fumavam maconha.
Não sei o motivo e certamente não os acuso de estarem "errados" por fazerem força para serem diferentes. Também, não estou aqui para sugerir que não tentem ser aquilo que eles tentam ser, como se fosse uma "solução para o problema" deles. Não acho que eles tenham um problema, de modo algum. Mas falo por mim, afinal é tudo o que posso fazer, que não entendo os motivos deles, assim como talvez eles não entendam os meus. Apenas constatei, e essa é a minha opinião, que de alternativo e original de nada eles tinham.
Eu gosto de fazer esse tipo de coisa de vez em quando. Como fotógrafo eu observo mais do que participo, mas dessa vez não houve fotos que pudessem servir como arquivo dessas minhas experiências antropológicas. Prometo que da próxima vez que participar dessas aventuras (que são até divertidas), eu volto com umas 200 fotos.
Afinal de contas, experiência antropológica de fotógrafo é registrada com foto, e não num texto tendencioso e maculado que nem esse.
2 comentários:
O que você esperava encontrar no Maletta?? Nunca explorei os andares superiores, a parte de apartamentos... deve ser no mínimo interessante!
E como assim vc sai de casa sem a câmera? Você é um fotógrafo! (eu, por exemplo, nunca saio sem uma meia dúzia de tubos de ensaio)
e eu nunca saio de casa sem meu projetor 35mm, o guilherme sem seus livros e o matheus sem seus dentes.
Postar um comentário