domingo, 11 de setembro de 2011

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte IX

Em poucos minutos a algazarra chegava a ser incômoda até para eles, que pareciam tê-la começado. Eles não sabiam, mas a barulheira ia além do corredor, além da ala e além da prisão.
Artemis e Yehan, que até o momento haviam ficado quietos, conseguiram escutar o som abafado do alarido que havia se iniciado. Apesar de estarem no subsolo, os túneis da prisão tinham canais para circulação de ar que iam até a rua. Felizmente, para eles, aqueles canais reverberavam com ótima acústica e o som percorria facilmente as paredes até as celas mais baixas da prisão. Foi assim que Yehan e Artemis escutaram o som da baderna que se iniciara na rua.
Pessoas gritavam, cavalos corriam, vidraças se quebravam. O som de aço se chocando contra aço era o que mais chamava a atenção. Artemis pediu que os dois soldados se calassem e eles puderam discernir melhor o som que chegava através da parede.
— Isso se parece o som de espadas ou eu estou imaginando? — disse Artemis.
— Isso é o som de espadas — disse Argos — Será que é uma rebelião?
— Improvável — disse Elodin, se aproximando da parede na qual o som era mais alto — Começou na rua. A guerra chegou às ruas de Aliathra.
Dois guardas usando armadura completa com lanças em punho e espadas grandes embainhadas passaram correndo pelo corredor em frente à cela. Os quatro se entreolharam, especulativos. Todos estavam atentos. Eles ouviam os guardas gritando e repassando ordens a todo momento. As botas de aço se chocando contra o chão de pedra da ala sem janelas fazia o som reverberar por todo o corredor.
Muito embora eles não soubessem o que estava acontecendo, o alvoroço foi o bastante para reavivar aquele fiapo de esperança que eles sentiam se apagando dentro deles. Argos voltou a participar da gritaria dos presos. Viu naquele alarido uma chance de escapar dali, mas Elodin não o acompanhou. Artemis estava visivelmente apreensivo. Ele parou de brincar com as pedrinhas que encontrara e agora prestava atenção em cada ruído que entrava naquela cela. Yehan estava apático, para ele pouco importava o que aconteceria dali para frente, contando que saísse dali.
O tempo passou e nada aconteceu. Depois de muito gritar e espernear, Argos se cansou e sentou-se com as costas nas barras de aço e os joelhos dobrados. Elodin se distraiu com a sua mão novamente e se perdeu em pensamentos à medida que a algazarra foi diminuindo dentro da prisão até o som da euforia se tornar um sussurro distante. Entre o barulho da quebradeira, Argos e Elodin conseguiram distinguir o som de ordens de guerra sendo gritadas em meio ao que parecia ser o tropel que marchava para manter a ordem em lugar. Já era tarde quando tudo voltou ao silêncio novamente ou eles não puderam ouvir mais nada.
Eles já estavam deitados na palha, quase dormindo, quando ouviram o som de algo se chocando contra as grades num compasso marcado. O som vinha do lado direito do corredor, alguém caminhava lentamente enquanto batia um pedaço de alguma coisa contra as barras de aço das celas, na direção em que eles estavam. Foi como se aquilo fosse alimentasse Elodin. No mesmo instante em que percebeu que os sons estavam ficando cada vez mais altos, ele saltou de onde estava para a parede feita de barras de aço. Eles esperaram.
A velocidade das batidas foi diminuindo na mesma proporção em que foi se aproximando da cela deles, e quando a pessoa que batia nas barras finalmente chegou em frente aos quatro, eles gelaram. Artemis soltou as duas pedrinhas que tinha nas mãos e Yehan se remexeu no canto em que estivera desde quando havia chegado.
O rosto sorridente de Lerry fez aquele fiapo de esperança que havia se acendido no peito deles murchar como um miasma pútrido que acompanhava o carcereiro. Na mão esquerda ele tinha um pedaço de tábua quebrado a qual ele segurava enquanto sorria com seus dentes separados para eles. Olhou durante muito tempo para o rosto de cada um deles, sorrindo e se deleitando com o sofrimento da espera.
— Parece que alguém lá do alto está cuidando de vocês — disse ele, por fim. Fez uma pausa para ver as reações de cada um, mas ao não obter nada, concluiu que eles mesmos estavam confusos — Eu já obtive reações mais animadas de pessoas que tiveram a pena de morte adiada.

0 comentários:

Postar um comentário