— Adiada? Por quê? Por qual motivo? — disse Argos.
— Qual o motivo da confusão lá fora? — disse Yehan.
— Por que eu deveria me sentir melhor? — Elodin falou e atraiu a atenção de Lerry — Ainda irão passar a corda no meu pescoço.
— Uma criatura invadiu a cidade — disse Lerry, ainda olhando para Elodin, mas seu olhar era especulativo e curioso.
— Criatura? Qual criatura?
— Esse é um assunto que diz respeito somente a quem deva saber.
— Qual criatura? — Elodin insistiu, mas Lerry deu de ombros e se virou para ir embora e deixá-los com seus devaneios — Mas é burro! É tão burro quanto a sua mãe! E olha que ela me divertia mais do que você!
Lerry sumiu no corredor e Elodin voltou-se para os outros como se nada tivesse acontecido ali.
— Não adianta ficar xingando a mãe do homem que cuida dos prisioneiros, Elodin — disse Argos, se sentando outra vez — Nós precisamos pensar em alguma coisa efetiva que possa nos tirar daqui.
— Me dê uma luz.
— É o que eu estou tentando fazer! Preciso da opinião de vocês.
— Você não está fazendo nada — o tom de voz de Elodin estava começando a se alterar — Só fica sentado aí sem fazer nada.
— Eu estou pensando.
Yehan, irritado e aborrecido com a discussão inútil dos dois, conseguiu distinguir uma conversa que tentava ser discreta que tinha origem ainda no corredor de pedra da cela em que estavam. Uma das vozes, ele reconheceu, era de Lerry, e ela demonstrava um protesto veemente e enfurecido. Yehan se levantou e fez sinal para os dois se calarem. E foi então que todos ouviram.
— Mas, meu senhor, não é possível! — disse Lerry, tentando manter a voz baixa ao mesmo tempo em que tentava colocar toda a sua indignação na frase — Eles não! Há tanta gente disponível. Eu vou!
— Não sou eu quem decide as coisas, Lerry — disse a outra voz, que se mantinha firme e aparentemente impassível diante do protesto do carcereiro — As ordens vieram de cima, de pessoas que eu mesmo nunca vi nada vida.
— Mas por que eles? Por que logo os traidores? Vou simplesmente soltá-los na cidade sem ninguém para policiá-los no meio dessa bagunça toda? Eles simplesmente vão poder virar as costas e sair da cidade sem a menor cerimônia e não vai haver ninguém que irá impedi-los — disse Lerry. Ele pareceu se mexer, o barulho de suas botas ecoou até a cela deles.
— Lerry — disse o outro, abaixando a voz mais ainda como se soubesse que os quatro ouviam a conversa atentamente — Lerry, meu caro. Você acha que Iak foi mandado apenas para você exibi-lo como se fosse seu bichinho de estimação para os presos? Use-o. É tudo o que você tem. E não é pouca coisa.
— Quer confiar um trabalho dessa importância na mão de dois traidores e um delator de Valveth? Tudo bem. Se são ordens superiores, eu concordo com isso.
A conversa pareceu terminar por ali, eles supuseram, porque não se ouviu mais a voz de nenhum dos dois soar mais naquele momento. Eles se voltaram uns para os outros, com olhares especulativos e então ouviram os passos de alguém se aproximando da cela.
Não demorou e Lerry surgiu em frente às barras de aço que os prendiam ali com uma expressão mal humorada no rosto. Ele segurava o cinto que se prendia à sua enorme barriga. No cinto, um molho de chaves pendia cintilante e sugestivo. Lerry suspirou e Elodin se aproximou das barras de aço, sentindo-se vitorioso sem ter ganhado nada.
— Vocês são os desgraçados mais sortudos que já passaram por essa prisão — disse ele. Os quatro sentiram uma onda de alívio percorrer as entranhas — Tenho um trabalho para vocês.
Lerry se calou, aguardando para avaliar a reação deles. Artemis baixou a cabeça.
— Vai ficar enrolando ou quê? Desembucha, homem! — foi tudo o que ele conseguiu.
— Vocês ouviram falar do assassino que estava fazendo os detetives colecionarem casos nesses últimos meses para cá, não é? — Lerry disse, mas ainda não havia feito um movimento sequer dando a entender de que abriria a cela naquele dia. O único que não havia ouvido falar do assassino era Artemis. Era a primeira semana dele naquela cidade e achava que, se conseguisse escapar daquela situação, nunca mais voltaria a colocar os pés naquele solo outra vez — Os ataques ficaram mais freqüentes e as tentativas dos nossos guardas em rastrear o cretino deram em um beco sem saída. Então o rei decidiu pagar uma pessoa especializada em rastrear só para ela cuidar desse caso. Mas o detetive fez algumas exigências.
— O detetive? Fez algumas exigências? — disse Artemis, parecendo incrédulo, mas ainda sem sair do seu canto.
— Ele quer a proteção de alguns guardas — disse Lerry. Ele ainda não acreditava que estava fazendo aquilo. Parecia que o rei havia perdido de vez a noção de tudo. Lerry pensou que talvez ele estivesse doente ou delirante por algum motivo, mas ordens eram ordens — Infelizmente, para nós, toda a nossa guarnição está ocupada ou morta contra a criatura que nos atacou hoje no início da tarde. Então alguma mente delirante pediu que vocês fizessem o favor de proteger as costas do rastreador enquanto ele faz o trabalho dele.
— Isso nos dará liberdade? — disse Argos, se aproximando das barras com a mão na cintura.
— Posso garantir uma refeição mais decente — disse Lerry, depois de uma risada quase contida de desdém — Um pedaço de carne e queijo.
Elodin voltou suas costas para Lerry e encarou seus companheiros de cela com um sorriso maligno no rosto. Naquele momento todos entenderam o que ele queria dizer.
— Eu estou dentro — disse Artemis, depois de avaliar a expressão sorridente no rosto do soldado.
— Que ilusão a minha! — Argos abriu os braços, suspirando — Eu tenho escolha?
— Imagino que vocês irão nos armar — disse Artemis — Se é um trabalho de proteção contra as possíveis intempéries presentes na caça a um assassino, então teremos que carregar armas.
Lerry olhou para o chão e andou um passo a frente, se aproximando da cela e encarando todos eles seriamente.
— Todo mundo na parede — quando Yehan, Argos e Artemis estavam de costas para as barras de aço, a porta se abriu e se fechou assim que Lerry terminava de falar — Então você é o primeiro, garotão.
E o som da tranca soou novamente, e quando eles se voltaram Lerry havia sumido com Elodin. Então eles repensaram sua situação novamente e concluíram que não havia melhorado muito. Pois eles ainda estavam sob custódia. E eles tinham um último trabalho.
Antes de irem para a forca.
4 comentários:
Pronto. Agora vocês tem o bastante pra se divertirem. Não mais postarei nada que eu escrever pra vocês, se não vai perder a magia de se ler com o livro nas mãos.
épico!!!!!
e os diálogos estão bem legais...
eu tava achando que vc ia postar tudo aqui!
realmente pode perder a graça de ler o livro mesmo, mas a curiosidade tem falado alto
Foda-se a curiosidade, meu fi! Vai ter que aguentar.
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