Ao tilintar do último gole do bom vinho, Lúpulo Moncavre pediu a seu filho Marco, a Menéltar e a Gnoa que o acompanhassem até o seu escritório. Os convidados pediram licença aos demais e acompanharam os anfitriões escada acima. Ao ver aquilo, Artemis ficou desapontado, já que aguardava ansiosamente por mais um sarau do bom Menéltar, além de notícias sobre os reinos distantes. Rosalinda percebeu a decepção, que era bastante clara no semblante sempre vivaz do filho mais moço, mas se conteve. Sabia da alegria de Artemis com as visitas dos velhos amigos da família, ainda mais quando ela se dava de forma tão repentina.
A mesa permaneceu sob um denso silêncio, até que o cabisbaixo Artemis beijou o rosto da mãe, desejou-lhe boa noite e subiu as escadas. Rosalinda sorriu e deixou o pensamento vagar, tentando descobrir no que o filho ficaria pensando deitado na cama e olhando as estrelas, já que com certeza ele não conseguiria dormir tão cedo. E por esses caminhos sua mente vagou, enquanto o criado a ajudava a se sentar próxima à lareira.
Artemis subira as escadas, mas seus passos não o conduziram ao dormitório. Ele sentia uma curiosidade crescente sobre o que teria feito os dois amigos chegarem tão tarde e sem aviso. Ele não se conteve e se aproximou lentamente da porta do escritório, com cuidado, passo a passo, tentando não fazer barulho. Não conteve o arrepio que lhe subiu a espinha quando sua orelha tocou o carvalho frio da porta, já distinguindo o inconfundível som de taças se chocando em um brinde.
- Foi mesmo uma bela surpresa a chegada de vocês! – Artemis ouviu a voz possante do pai - Quase não pude me conter, durante o jantar, de perguntar o que diabos vocês queriam me dizer! Por favor, não façam isso comigo! Vocês sabem que sou ansioso e a essa altura minha velha Rosa já deve saber que estamos tratando de algo sério!
- É interessante como ainda nos dias de hoje coisas pouco amenas justificam o encontro de bons camaradas! – disse Menéltar, no mesmo tom animado de sempre. – Mas como você já previu, velho amigo, as notícias que trago não são das melhores.
Artemis se espremia contra a porta, na esperança de não perder uma palavra sequer do diálogo.
- Estou habituado a ouvir narrativas tristes e lamentáveis de seu bandolim, Menéltar, mas não de seus lábios – disse Marco, em seu tom sempre diplomático.
- Pois então, meu bom Marco, viemos o quanto antes para lhes avisar do perigo que correm.
Artemis não se conteve e tentou olhar pela fechadura. Os quatro homens estavam sentados nas poltronas e tomavam vinho. Gnoa brincava despreocupado com o que parecia ser uma moeda, enquanto os outros três homens se encaravam com ar de seriedade. Artemis quase caiu de susto quando os olhos de Gnoa cruzaram com o dele e depois voltaram à moeda.
- Pois então fale logo, homem, não venha me matar antes da hora! – o pai já estava vermelho e falava gesticulando bastante.
- Viajávamos por Aliatra há uns dias atrás, acompanhando alguns velhos companheiros de aventura. Fiquei então sabendo que o exército de lá planejava avançar as fronteiras de guerra e que já estava marchando para os lados de Petigretor.
- Impossível! – Lúpulo quase gritava – se houvesse tropas inteiras marchando pra cá eu já teria sido avisado!
- Mas e se fossem apenas batedores? – respondeu Menéltar. - Em tempos de guerras as atenções estão voltadas a pontos demais.
- Mas o que batedores poderão fazer contra nossa guarda? – perguntou Marco, um pouco menos aflito que o pai.
- Talvez eles planejem um ataque à cidade e mandaram uma tropa de reconhecimento – disse Menéltar.
- E quando eles chegam? – disse Lúpulo.
Menéltar olhou para Gnoa, com olhar inquisitivo, convocando o amigo para a reunião.
- Prossiga Menel, – atalhou o jovem, com um leve sorriso e ainda brincando com a moeda – você estava indo bem. E você sempre foi melhor pra contar histórias!
Menéltar retribuiu o sorriso e prosseguiu:
- Ontem pela noite vimos um acampamento há algumas horas de viajem daqui, montado longe da estrada principal. Gnoa investigou o lugar e viu que eram de Aliatra. Uns cinqüenta homens e bem equipados, todos com armaduras leves. Devem estar tramando algo.
- Eles estavam ao leste? Pois mandarei atacá-los o quanto antes! Vou escrever uma carta convocando a ajuda dos lordes vizinhos! – disse Lúpulo, cada vez mais exasperado e com a face mais avermelhada.
- Um ataque aberto não deve ser uma idéia muito boa – disse Gnoa – a não ser que você contasse com um efetivo muito grande. Eles estão com muitos arqueiros e as perdas seriam grandes.
- Sei como dar um jeito nisso – respondeu, em tom seco, Marco, que foi então alvo de olhares inquisitivos dos outros.
Artemis ouviu o som de passos subindo a escada e se afastou da porta. Esgueirou-se pelo corredor o mais rápido que pôde em silêncio e foi para o quarto. O peito pulsava e a testa suava. Ele sabia que o exército de Aliatra avançava cada vez mais pelas fronteiras e que Petigretor estava no caminho. Um turbilhão de coisas rodava em sua cabeça, pensando sempre que a guarda da cidade não seria páreo para um exército.
No dia seguinte, ainda bem cedo, Gnoa e Menéltar já se despediam da família, para seguirem de volta a suas intermináveis jornadas. Ao abraçar Artemis, Gnoa disse bem baixo no seu ouvido:
- Toma cuidado com o que você vai fazer, garoto!
Afagou os cabelos do jovem, deu uma piscada, sorrindo, e saiu.
E foi mais ou menos assim que tudo começou.
12 comentários:
O que é isso, MT? É algo possível de ser utilizado no livro?
Pergunto porque acabei de chegar da fucul depois de 3 aulas de Economia e to com preguiça de ler agora. aueheuaheauheuah
Preguiçoso!
Acho que pode ser um pouco difícil de usar isso diretamente do livro, mas só quis compartilhar um pouco do início do envolvimento do Artemis com a aventura...
bacana mt!um inicio bem interessante. Sempre um prazer ler historias que envolvam Menéltar e Gnoa também!
Gnoa mostrando o que significa um observar/ouvir alto...
Genial!!!!!
Eu li. E to completamente perdido. Por acaso esse Menéltar é algum personagem antigo de vocês? E o Gnoa?
Eu fiquei confuso, MT. Quem é o pai do Artemis?
Achei q tinha dado pra perceber os laços familiares!
O pai é Lupulo,a mãe é Rosalinda e Marco é o irmão mais velho.
Meneltar e Gnoa são personagens idealizados por mim e Fox, respectivamente, e que nunca foram usados da devida maneira. O Artemis era originalmente um NPC que eu criei e que também nunca usei, mas que tinha ligações com Menel e Gnoa. Conversei com o Fox e ele deixou eu botar os dois como figurantes na história.
Agora tudo ficou claro!
Você é bom com diálogos, MT. Ficaram bem naturais e espontâneos.
valeu Tops! É que eu já tinha pensado bastante nos 4 personagens, aí conhecendo melhor a coisa flui!
Pois é! até arrepiei na hora hauaha! ui!
deu pra entender o parentesco de todos, o loba que não prestou atenção acho...
mimimimimi
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