— Você foi jogado na ala dos condenados à morte — disse Elodin, se intrometendo na conversa novamente — Você já está morto.
— Fui jogado aqui sem julgamento e sem aviso — disse Yehan, cheio de ódio — Acho que eles queriam alguém para culpar pelo que estava acontecendo na floresta, e eu estava no lugar errado na hora errada. E o rei ainda tem a audácia de auto proclamar um rei misericordioso.
Ele fez força e se levantou espanando a palha que havia grudado na sua roupa de algodão, depois caminhou para um canto da sala, para longe de Argos e de qualquer outro que estivesse próximo de si.
— Um velho poeta que costumava freqüentar os jantares oferecidos por meu pai costumava dizer que o maior claustro do homem é ele mesmo — disse Artemis de repente, quando Yehan se sentou — mas hoje eu tenho certeza de que ele estava bastante errado.
— Essa deveria ser uma informação útil? — disse Elodin, deixando o mau humor transparecer outra vez, então ele se voltou a encarar o corredor mais uma vez — Esse novo amiguinho do Lerry fez meu plano de sair daqui se desmantelar por inteiro.
— Eu suponho que essa sua gritaria tenha alguma utilidade, então — disse Artemis — Se a gente ao menos conseguisse contato com alguém de fora daqui.
Ele começou a dizer, mas sua voz morreu no meio da frase. Um silêncio aterrorizante se apossou da cela e, com exceção de Elodin, os prisioneiros se encaravam com desconforto estampado nos rostos cansados da guerra de toda a situação que os havia colocado ali.
— Efetivamente nós precisamos sair daqui — Argos resolveu quebrar o clima de tensão. Ou pelo menos tentou — uma vez que todos nós estamos aqui por motivos injustos.
— Todos concordamos com você — Artemis falou sem tirar os olhos das pedrinhas no chão de palha.
— Nós precisamos descobrir como passar pela criatura do Lerry.
— Não — disse Artemis, então ele soltou as pedrinhas e olhou para as barras de aço em que Elodin se encostava tristemente — Não entendo muito de estratégias de combate, mas creio eu que precisamos pensar em um passo de cada vez. Precisamos pensar num meio de sair daqui de dentro.
— E você conhece alguém de fora que possa nos ajudar de alguma forma? — disse Argos.
— Conheço uma dúzia de famílias que poderia nos ajudar — disse Artemis — Mas de que forma isso poderia ser útil? Eles estão a uma fronteira de distância, do outro lado da Faixa de Lurc.
Aquela pequena parte do mundo estava em guerra naqueles dias. Entre os dois reinos em combate, uma faixa de terra dominada por orcs era tudo o que os separava do conflito direto. A Faixa de Lurc, por direito, pertencia a Valveth, o reino a leste, e ao tentar retomar o que lhe pertencia de volta, o rei causou a desordem na vida dos orcs e na do rei de Aliathra, o reino do outro lado da Faixa de Lurc.— Sinceramente, eu estou desesperado — disse Artemis. O tempo não parecia passar debaixo da terra, quando não se tinha uma referência por falta de janelas. Elodin voltou a encarar os dedos cortados e as bandagens vermelhas com seu sangue. Ao mover-se, o aleijado chamou a atenção de Artemis — Vocês dois já se conheciam, não é? Argos e Elodin?
— De fato. Nós pertencíamos ao mesmo regimento no exército do rei — disse Argos.
— E por que cortaram os dedos dele e não os seus?
— Não se deixe enganar apenas por aquilo que você consegue enxergar — disse Elodin, se voltando para o nobre, antes que Argos falasse por ele — Eu fui torturado por Lerry após a captura. Queriam informações de quem mais estava envolvido na traição, e o exército de Valveth emprega bons torturadores para o interrogatório. Mas no final das contas, nada disso importa agora — ele ergueu a mão direita, mostrando as bandagens em vermelho vivo — é isso o que eles fazem aos arqueiros capturados. Sinceramente eu não sei por que me deram a pena de morte.
— Isso é bastante inteligente — Artemis parecia surpreso — Até óbvio, devo dizer.
— Nós estamos de conversa e precisamos arrumar uma forma de sair daqui — disse Argos, antes que Elodin se enfurecesse com o comentário de Artemis.
— Tudo o que nós podemos fazer é sentar e conversar até que alguma idéia apareça — disse Artemis. Yehan apenas observava, calado e aparentemente distante.
Novamente, e por longo tempo, dessa vez, eles fizeram silêncio e se esqueceram uns dos outros ali na cela. Elodin, por vezes, alternava entre encarar por longo tempo o corredor e seus dedos cortados. Ficou por muitos minutos, os quais ninguém se preocupou em contar, em pé, encostado nas barras de aço, até que, por fim, se sentou e chamou a atenção dos outros. Mas ninguém falou nada. Argos e Artemis haviam se cansado de falar com ele. Era melhor deixar a raiva passar lentamente do que ele descarregá-la por completo ali mesmo.
2 comentários:
A pedido do Fox, coloquei um pedaço um pouco maior do que de costume. Leiam ae!
E comentem!
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