quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Carlos Nunez e a importância do carisma

Acabo de chegar em casa de um dos melhores shows a que fui até hoje.

Ouvi falar desse espanhol pela primeira vez acho que ano passado, no programa da Ana Maria Braga (pois é...). Ele estava no Brasil buscando detalhes da vida do bisavô, que veio pra cá em 1900 e pouco. Aproveitou pra aprender sobre música brasileira e, de quebra, gravar um álbum com figuras como Fernanda Takai, Lenine e Dominguinhos.




Grande representante da música céltica, Nunez é um dos maiores gaitistas de fole do mundo. Ele estuda músicas de tudo quanto é lugar e vive enxergando influências célticas pra todo lado. No show ele falou que a gaita de fole foi o primeiro instrumento vindo da Europa pro Brasil. Estava em uma das naus da expedição de Cabral. Ele falou também que atribui-se a palavra "xote" a uma corruptela de "scottish".

O show começou com um pouco de asa branca tocada na gaita de fole, passou pelo bolero de Ravel, uma infinidade de músicas célticas típicas misturadas com ritmos nordestinos (fantástico!), uma música do Pixinguinha e o percussionista "tocando" a mala de viagem. Até houve participação de três gaitistas de fole de BH. O bis foi foda. Depois de uns dois minutos do pessoal aplaudindo loucamente eles voltaram e improvisaram um Cotton Eyed Joe. A violinista era fantástica e tinha uma voz linda. E vi em ação uma réplica de uma sanfona do século XIII.

Não sei bem o que eu esperava que o show fosse. Mas foi muito bom!

Carlos Nunez é um cara extremamente carismático. Ele pulava no meio das músicas, dançava, mandava o pessoal levantar, bater palmas, dançar forró no palco e até uma dancinha irlandesa típica. Se não fosse toda essa energia o show teria sido talvez uma mera apresentação com um gaitista (uma baita de uma apresentação, ainda assim!), o que no Brasil já seria surpreendente. Mas presença de palco é algo fundamental para conduzir uma platéia por 2 horas e mantê-la totalmente absorta no show.

Músicos talentosos existem aos montes. Mas são poucos os que conseguem passar a paixão pela música à platéia. Carlos Nunez é um deles.


Porque não basta apenas apagar o fogo


Vi essa foto no Facebook e achei que merecia ir além do Facebook. Porque acho que esse blog é pra gente compartilhar coisas boas também, e não só aquelas que causam discussões intermináveis que não levam a lugar nenhum.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Trecho do Livro

Mais um trecho do livro pra deixarem vocês com vontade de ler.

"Sem ter como escapar, e sem qualquer ânimo para tentar uma fuga no meio da noite, eles acataram às ordens repassadas pelo garoto e voltaram à delegacia. Aquilo resolvia, de certa forma, muitos dos impasses nos quais eles haviam chegado. Estavam todos cansados por carregar o peso das armaduras nos ombros durante bastante tempo e por isso não estavam pensando direito. Tão cansados, que quando foram jogados de volta à cela, não demoraram cinco minutos para dormir.
         Nesse meio tempo, eles não sabiam, mas Lerry estava na sala de seu superior tendo uma conversa sobre aqueles quatro na cela nove. Falavam sobre Iak, a criatura que agora trabalhava na guarda e falavam sobre o assassino.
         Os quatro condenados não sabiam, mas o dia seguinte seria cheio para eles. Porque Argos e Elodin estavam novamente a serviço do Rei de Aliathra, até que fossem dispensados dele ou até que a morte os levasse daquele mundo.
         Porque eles iriam continuar a investigação no lugar do Senhor C.
         E também porque eles iriam visitar a Rua dos Ladrões."

Hello Nietzsche!


"Não sou um homem... sou uma dinamITTY"


Eu aproveitei esses dias de febre alta e repouso forçado para meditar sobre algumas coisas (quando não estava dormindo, claro), e uma delas foi sobre a força da palavra.

As palavras são a única maneira de expressarmos algo (considerando que até os números, para serem ditos e entendidos, são convertidos em palavras). Errou por pouco o Grande Pitágoras ao dizer que tudo são números... TUDO É PALAVRA.

Com a palavra, o Homem tem invocado, desde o seu despertar, deuses e demônios, benção e pragas, cura e doença...

Com a palavra, o Homem fez tanto a guerra quanto a paz, a morte e a vida! Batizou heróis, derrubou alguns deuses, ergueu alguns outros, chamou a Ciência de Tao...

A palavra educou seus filhos, seus netos, seus bisnetos e toda a geração! Descreveu belas paisagens, contou histórias de amor, de solidão, de amizade e de coragem.

Manteve viva a memória de um povo...

Criou o mundo! (João 1:1,2,3,14)

E aqui estamos nós, bradando muitas vezes palavras ao vento, sem ao menos pensar em sua força, em seu poder!

A ciência já demonstrou que os animais não possuem uma racionalidade equiparada à do homem, e, consequentemente, uma vez que é fruto da cultura, também não deve possuir palavras tais como as nossas (realmente, se possuíssem, o mundo já teria sido dominado pelas formigas!).

Apenas nós, pobres mortais feitos de um emaranhado de carbono e alguns outros compostos, explodindo bombas de sódio e potássio a torto e a direito como meros itens da natureza completa, imortal e infinita, podemos utilizar esse veículo tão poderoso de criação e destruição... a palavra, o que, de fato, nos equipara a titãs!

As palavras faladas são como cinzas jogadas do cume de uma montanha... jamais poderemos recuperá-las...

E não custa lembrar o velho adágio: “Quem profere em demasia, saúda eqüinos ao alvorecer!”

Temos dois ouvidos e uma boca só, não é a toa...!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Prólogo

Ao tilintar do último gole do bom vinho, Lúpulo Moncavre pediu a seu filho Marco, a Menéltar e a Gnoa que o acompanhassem até o seu escritório. Os convidados pediram licença aos demais e acompanharam os anfitriões escada acima. Ao ver aquilo, Artemis ficou desapontado, já que aguardava ansiosamente por mais um sarau do bom Menéltar, além de notícias sobre os reinos distantes. Rosalinda percebeu a decepção, que era bastante clara no semblante sempre vivaz do filho mais moço, mas se conteve. Sabia da alegria de Artemis com as visitas dos velhos amigos da família, ainda mais quando ela se dava de forma tão repentina.

A mesa permaneceu sob um denso silêncio, até que o cabisbaixo Artemis beijou o rosto da mãe, desejou-lhe boa noite e subiu as escadas. Rosalinda sorriu e deixou o pensamento vagar, tentando descobrir no que o filho ficaria pensando deitado na cama e olhando as estrelas, já que com certeza ele não conseguiria dormir tão cedo. E por esses caminhos sua mente vagou, enquanto o criado a ajudava a se sentar próxima à lareira.

Artemis subira as escadas, mas seus passos não o conduziram ao dormitório. Ele sentia uma curiosidade crescente sobre o que teria feito os dois amigos chegarem tão tarde e sem aviso. Ele não se conteve e se aproximou lentamente da porta do escritório, com cuidado, passo a passo, tentando não fazer barulho. Não conteve o arrepio que lhe subiu a espinha quando sua orelha tocou o carvalho frio da porta, já distinguindo o inconfundível som de taças se chocando em um brinde.

- Foi mesmo uma bela surpresa a chegada de vocês! – Artemis ouviu a voz possante do pai - Quase não pude me conter, durante o jantar, de perguntar o que diabos vocês queriam me dizer! Por favor, não façam isso comigo! Vocês sabem que sou ansioso e a essa altura minha velha Rosa já deve saber que estamos tratando de algo sério!

- É interessante como ainda nos dias de hoje coisas pouco amenas justificam o encontro de bons camaradas! – disse Menéltar, no mesmo tom animado de sempre. – Mas como você já previu, velho amigo, as notícias que trago não são das melhores.

Artemis se espremia contra a porta, na esperança de não perder uma palavra sequer do diálogo.

- Estou habituado a ouvir narrativas tristes e lamentáveis de seu bandolim, Menéltar, mas não de seus lábios – disse Marco, em seu tom sempre diplomático.

- Pois então, meu bom Marco, viemos o quanto antes para lhes avisar do perigo que correm.

Artemis não se conteve e tentou olhar pela fechadura. Os quatro homens estavam sentados nas poltronas e tomavam vinho. Gnoa brincava despreocupado com o que parecia ser uma moeda, enquanto os outros três homens se encaravam com ar de seriedade. Artemis quase caiu de susto quando os olhos de Gnoa cruzaram com o dele e depois voltaram à moeda.

- Pois então fale logo, homem, não venha me matar antes da hora! – o pai já estava vermelho e falava gesticulando bastante.

- Viajávamos por Aliatra há uns dias atrás, acompanhando alguns velhos companheiros de aventura. Fiquei então sabendo que o exército de lá planejava avançar as fronteiras de guerra e que já estava marchando para os lados de Petigretor.

- Impossível! – Lúpulo quase gritava – se houvesse tropas inteiras marchando pra cá eu já teria sido avisado!

- Mas e se fossem apenas batedores? – respondeu Menéltar. - Em tempos de guerras as atenções estão voltadas a pontos demais.

- Mas o que batedores poderão fazer contra nossa guarda? – perguntou Marco, um pouco menos aflito que o pai.

- Talvez eles planejem um ataque à cidade e mandaram uma tropa de reconhecimento – disse Menéltar.

- E quando eles chegam? – disse Lúpulo.

Menéltar olhou para Gnoa, com olhar inquisitivo, convocando o amigo para a reunião.

- Prossiga Menel, – atalhou o jovem, com um leve sorriso e ainda brincando com a moeda – você estava indo bem. E você sempre foi melhor pra contar histórias!

Menéltar retribuiu o sorriso e prosseguiu:

- Ontem pela noite vimos um acampamento há algumas horas de viajem daqui, montado longe da estrada principal. Gnoa investigou o lugar e viu que eram de Aliatra. Uns cinqüenta homens e bem equipados, todos com armaduras leves. Devem estar tramando algo.

- Eles estavam ao leste? Pois mandarei atacá-los o quanto antes! Vou escrever uma carta convocando a ajuda dos lordes vizinhos! – disse Lúpulo, cada vez mais exasperado e com a face mais avermelhada.

- Um ataque aberto não deve ser uma idéia muito boa – disse Gnoa – a não ser que você contasse com um efetivo muito grande. Eles estão com muitos arqueiros e as perdas seriam grandes.

- Sei como dar um jeito nisso – respondeu, em tom seco, Marco, que foi então alvo de olhares inquisitivos dos outros.

Artemis ouviu o som de passos subindo a escada e se afastou da porta. Esgueirou-se pelo corredor o mais rápido que pôde em silêncio e foi para o quarto. O peito pulsava e a testa suava. Ele sabia que o exército de Aliatra avançava cada vez mais pelas fronteiras e que Petigretor estava no caminho. Um turbilhão de coisas rodava em sua cabeça, pensando sempre que a guarda da cidade não seria páreo para um exército.

No dia seguinte, ainda bem cedo, Gnoa e Menéltar já se despediam da família, para seguirem de volta a suas intermináveis jornadas. Ao abraçar Artemis, Gnoa disse bem baixo no seu ouvido:

- Toma cuidado com o que você vai fazer, garoto!

Afagou os cabelos do jovem, deu uma piscada, sorrindo, e saiu.

E foi mais ou menos assim que tudo começou.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quem entende o Word?

Estava eu digitando o livro, quando me deparo com uma daquelas marcações de erros gramaticais do Word.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Do outro lado da história

Os gritos são sempre tantos e tão altos que acabam por abafar o som seco do baque do objeto que se choca com o chão. Todos os olhares confluem para os dois personagens em primeiro plano naquele ato: o machado e o condenado.

Mas há sempre uma alma esquecida, talvez até mesmo por Deus, coabitando aquele palco. Uma alma de homem, talvez solitária, talvez preenchida por algum amor, se é que seres de mãos tão banhadas em sangue são capazes de amar. Terá algum dia uma mulher sido um algoz? Teria sido ela capaz de amar?

Não há perdão implorado, lágrimas ou súplicas que detenham aquelas mãos firmes, já calejadas, tanto quanto a alma. Mas quem é mais selvagem? A mão que decepa ou os sorrisos que se abrem ao menor sinal de sangue?

Alguém já se dignou a olhar nos olhos de um carrasco no momento da execução? Que angústias desesperadas aqueles olhos profundos devem carregar, conscientes do número de vidas em sua conta? Talvez por isso os algozes cubram o rosto; pra ocultar a hesitação não demonstrada pelas mãos. Pois se os olhos são a janela na alma, não há nada mais obscuro que o semblante de um executor.

Mas chega um dia em que cada cabeça cortada é apenas mais uma. As mãos já não precisam disfarçar a hesitação e nem sequer os olhos indicam qualquer sinal de vida. Não há nada mais que um homem morto levando a morte a um condenado. Pois não há vida que se sustente entre tantas perdas levadas.

Um carrasco é um eterno combatente sem um lado definido na guerra. Ele decepa os condenados e talvez depois os antigos mandantes. Seu machado afiado é cego, insensível à carne cortada. Mas o homem que o maneja, não. O que deve passar pela cabeça de um homem incumbido de executar o próprio pai ou o próprio filho?

Talvez por isso o algoz cubra o rosto; para que, ao menos por um instante, as pessoas se esqueçam de que ele também é um ser humano.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Crônica de uma viagem (quase) inútil

Se eu tirasse o “Crônica” e as coisas tivessem corrido melhor o título do texto ia virar filme no SBT.

Há alguns meses tive a brilhante idéia de tirar visto pros States. Pra quando aparecesse oportunidade e tals. Resolvi agendar a entrevista no Consulado do Rio, nem lembro mais o porquê. Preenchi um formulário colossal (e sim, tive que marcar YES quando me perguntaram se eu tinha conhecimento sobre produtos químicos e explosivos...), paguei uns 250 conto e por aí vai.

O tempo passou e eu nem vi. Já tava quase chegando a data da entrevista. “Vou de ônibus”, pensei, “Vai que se eu pegar avião ele atrasa”. E lá fui eu, comprar passagem pra um ônibus que saía quinta às 23:30. Até parece que eu não me conhecia. Óbvio que eu não ia conseguir dormir na viagem. Pra volta, a passagem aérea já estava comprada.

Providenciei mil e um documentos e lá vou eu pra rodoviária. Quem nunca esteve numa rodoviária a essa hora tem que visitar uma. Pessoas de todos os exemplares espalhadas pelas cadeiras desconfortáveis. Umas, sem conseguir conter a empolgação com a expectativa da viagem. Outras, com os olhos retratando uma exaustão quase palpável. No meu caso, não era um nem outro. Era só vontade de acabar tudo isso depressa. O pior de tudo é que no consulado não pode entrar com coisas eletrônicas, então meu bom iPod teve que ficar em casa.

O ônibus até que causou boa impressão. Era daqueles de dois andares. Meu lugar, olha só, era na primeira fileira do andar de cima. E lá fui eu, sacolejando por aí, com vista privilegiada da rota noturna. “Sacolejando” é uma palavra perfeita para o que aconteceu a noite toda. Era só eu tentar dormir que o motorista, temerário, me acordava na primeira curva. Fui pensando na vida, que mais eu podia fazer? Metade da viagem se passou e eu não havia pregado os olhos ainda. “O dia amanhã vai ser aquela beleza”, pensei. Talvez vocês vejam vários “pensei” ao longo do texto. Que mais fazer em uma viagem solitária?

Devo ter cochilado por umas duas horas, em pequenos turnos nas 3 horas e meia restantes de viagem. Cheguei na rodoviária do Rio, umas 6 e pouco da manhã. Muito foda! Nos cinco minutos que fiquei lá deu pra perceber que tinha muita cara de aeroporto. Lojas e mais lojas, até bem arrumadinhas. Precisava ir pro aeroporto Santos Dumont. De lá eu fazia o resto do trajeto até o consulado à pé. E lá vou eu em busca do ônibus de conexão. Fui esperando que fosse igual à BH: você compra a passagem em um guichê na rodoviária e ele sai lá de dentro mesmo.

Ledo engano! Depois de pedir umas informações aqui e ali, descobri que tinha que pegar ônibus na rua mesmo. E qualquer vestígio de ordem acabava quando se saía da rodoviária. Alguns viadutos se cruzavam sobre minha cabeça, enquanto ônibus e mais ônibus (numa taxa de uns 3 por segundo) estacionavam pra pegar passageiros. Tinha até um cara pra organizar o trânsito.

Depois de uns vinte minutos eu peguei um ônibus, um Frescão, com ar condicionado. Andei um pouco e depois saltei em frente ao aeroporto. Na passarela pra cruzar a avenida, uma surpresa: olhei pro lado e vi o Cristo Redentor, bem ao longe. Uma bela visão.

O aeroporto era pequeno. Tomei café e sentei em um canto pra estudar um pouco, até dar a hora de ir pro consulado. E então eu fui. O caminho era até bem agradável. A fila era até gigantesca. Mas, seja lá como for, fui atendido na hora marcada.

O mais incrível de tudo é que ficava um povo recolhendo mochilas, celulares etc das pessoas que iam entrar no consulado, por uns 5 reais ou coisa assim e, mesmo no centrão do Rio, tudo voltava pras suas mãos depois da entrevista.

Saí do consulado a fim de dar uma volta. E fui, andando à esmo pelos arredores, apreciando aquela mistura de construções antigas e prédios modernos. Olho pro lado e opa! Estou em frente à Academia Brasileira de Letras. Um prédio muito bonito, com aquela beleza classuda que se espera. Pena que estava fechado pra visitação.

Andei o resto do quarteirão e, quando estava a fim de arrumar um canto legal pra sentar e pensar na vida, vi o que parecia ser uma exposição de arte, no segundo andar de um prédio bonitão. Entrei e não me arrependi. Era uma mostra de retratos pintados pela artista plástico cubano Julio Piroh. Pois é, eu também nunca tinha ouvida falar, mas as pinturas eram bem legais. Na saída, conversando um pouco com a recepcionista da exposição, descobri que no prédio ao lado funcionava a Biblioteca Rodolfo Garcia, da ABL. Fui pra lá. Era um bom lugar pra sentar, descansar e estudar um pouco.

Precisei fazer carteirinha lá. Nunca vi tanta burocracia. Depois de ler mil avisos e assinar centenas de papéis, fui ler um pouco. Vez ou outra eu parava e olhava em volta. Era tudo muito organizado e bonito. Pena que uma hora depois minha barriga estava roncando alto demais e já perigava de eu ser expulso de lá por perturbar o silêncio. Resolvi almoçar num restaurante pequeno a algumas quadras dali. Não parecia ser muito caro. Mas era. Não sei se pros padrões do Rio, ou ao menos do bairro. Mas 27 conto o quilo de comida é um preço com o qual não estou muito habituado.

Saí do restaurante e andei um pouco mais. Vi do outro lado da avenida umas placas com o símbolo da Petrobrás, perto de um prédio bem diferente, mas bonito. Atravessei a passarela e descobri que o prédio diferente era o Museus de Arte Moderna. Andei mais um pouco e vi o mar. Era uma enseada bem bonita, repleta de barcos e rodeada de pequenos montes. Descobri depois que era a Marina da Glória. Sentei de frente pro mar e fiquei apreciando o horizonte. Percebi que dali onde estava eu podia ver, ao longe, o bondinho do Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. E fiquei ali olhando em volta, até que resolvi ler um pouco. Li o que consegui – era difícil impedir que o vento passasse as páginas. Levantei pra ir pro aeroporto. Já estava chegando a hora de fazer o check-in. Vi que um cara sentado perto de mim me olhava e rabiscava algo. Saí andando, os olhos dele me acompanharam e os rabiscos prosseguiram. Na hora não tive a idéia de pedir pra ver o desenho. Hoje eu me arrependo.

Na volta pro aeroporto, uma nova olhada pro Cristo na passarela.

O vôo não atrasou, mas peguei um baita trânsito em BH. Foi um jeito diferente de conhecer um pedacinho de nada no Rio. E foi bem legal.

E não, não consegui o visto. Mas isso nem importa mais.



Eu tava ali embaixo!!

domingo, 11 de setembro de 2011

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte X

— Adiada? Por quê? Por qual motivo? — disse Argos.
— Qual o motivo da confusão lá fora? — disse Yehan.
— Por que eu deveria me sentir melhor? — Elodin falou e atraiu a atenção de Lerry — Ainda irão passar a corda no meu pescoço.
— Uma criatura invadiu a cidade — disse Lerry, ainda olhando para Elodin, mas seu olhar era especulativo e curioso.
— Criatura? Qual criatura?
— Esse é um assunto que diz respeito somente a quem deva saber.
— Qual criatura? — Elodin insistiu, mas Lerry deu de ombros e se virou para ir embora e deixá-los com seus devaneios — Mas é burro! É tão burro quanto a sua mãe! E olha que ela me divertia mais do que você!
Lerry sumiu no corredor e Elodin voltou-se para os outros como se nada tivesse acontecido ali.
— Não adianta ficar xingando a mãe do homem que cuida dos prisioneiros, Elodin — disse Argos, se sentando outra vez — Nós precisamos pensar em alguma coisa efetiva que possa nos tirar daqui.
— Me dê uma luz.
— É o que eu estou tentando fazer! Preciso da opinião de vocês.
— Você não está fazendo nada — o tom de voz de Elodin estava começando a se alterar — Só fica sentado aí sem fazer nada.
— Eu estou pensando.
Yehan, irritado e aborrecido com a discussão inútil dos dois, conseguiu distinguir uma conversa que tentava ser discreta que tinha origem ainda no corredor de pedra da cela em que estavam. Uma das vozes, ele reconheceu, era de Lerry, e ela demonstrava um protesto veemente e enfurecido. Yehan se levantou e fez sinal para os dois se calarem. E foi então que todos ouviram.
— Mas, meu senhor, não é possível! — disse Lerry, tentando manter a voz baixa ao mesmo tempo em que tentava colocar toda a sua indignação na frase — Eles não! Há tanta gente disponível. Eu vou!
— Não sou eu quem decide as coisas, Lerry — disse a outra voz, que se mantinha firme e aparentemente impassível diante do protesto do carcereiro — As ordens vieram de cima, de pessoas que eu mesmo nunca vi nada vida.
— Mas por que eles? Por que logo os traidores? Vou simplesmente soltá-los na cidade sem ninguém para policiá-los no meio dessa bagunça toda? Eles simplesmente vão poder virar as costas e sair da cidade sem a menor cerimônia e não vai haver ninguém que irá impedi-los — disse Lerry. Ele pareceu se mexer, o barulho de suas botas ecoou até a cela deles.
— Lerry — disse o outro, abaixando a voz mais ainda como se soubesse que os quatro ouviam a conversa atentamente — Lerry, meu caro. Você acha que Iak foi mandado apenas para você exibi-lo como se fosse seu bichinho de estimação para os presos? Use-o. É tudo o que você tem. E não é pouca coisa.
— Quer confiar um trabalho dessa importância na mão de dois traidores e um delator de Valveth? Tudo bem. Se são ordens superiores, eu concordo com isso.
A conversa pareceu terminar por ali, eles supuseram, porque não se ouviu mais a voz de nenhum dos dois soar mais naquele momento. Eles se voltaram uns para os outros, com olhares especulativos e então ouviram os passos de alguém se aproximando da cela.
Não demorou e Lerry surgiu em frente às barras de aço que os prendiam ali com uma expressão mal humorada no rosto. Ele segurava o cinto que se prendia à sua enorme barriga. No cinto, um molho de chaves pendia cintilante e sugestivo. Lerry suspirou e Elodin se aproximou das barras de aço, sentindo-se vitorioso sem ter ganhado nada.
— Vocês são os desgraçados mais sortudos que já passaram por essa prisão — disse ele. Os quatro sentiram uma onda de alívio percorrer as entranhas — Tenho um trabalho para vocês.
Lerry se calou, aguardando para avaliar a reação deles. Artemis baixou a cabeça.
— Vai ficar enrolando ou quê? Desembucha, homem! — foi tudo o que ele conseguiu.
— Vocês ouviram falar do assassino que estava fazendo os detetives colecionarem casos nesses últimos meses para cá, não é? — Lerry disse, mas ainda não havia feito um movimento sequer dando a entender de que abriria a cela naquele dia. O único que não havia ouvido falar do assassino era Artemis. Era a primeira semana dele naquela cidade e achava que, se conseguisse escapar daquela situação, nunca mais voltaria a colocar os pés naquele solo outra vez — Os ataques ficaram mais freqüentes e as tentativas dos nossos guardas em rastrear o cretino deram em um beco sem saída. Então o rei decidiu pagar uma pessoa especializada em rastrear só para ela cuidar desse caso. Mas o detetive fez algumas exigências.
— O detetive? Fez algumas exigências? — disse Artemis, parecendo incrédulo, mas ainda sem sair do seu canto.
— Ele quer a proteção de alguns guardas — disse Lerry. Ele ainda não acreditava que estava fazendo aquilo. Parecia que o rei havia perdido de vez a noção de tudo. Lerry pensou que talvez ele estivesse doente ou delirante por algum motivo, mas ordens eram ordens — Infelizmente, para nós, toda a nossa guarnição está ocupada ou morta contra a criatura que nos atacou hoje no início da tarde. Então alguma mente delirante pediu que vocês fizessem o favor de proteger as costas do rastreador enquanto ele faz o trabalho dele.
— Isso nos dará liberdade? — disse Argos, se aproximando das barras com a mão na cintura.
— Posso garantir uma refeição mais decente — disse Lerry, depois de uma risada quase contida de desdém — Um pedaço de carne e queijo.
Elodin voltou suas costas para Lerry e encarou seus companheiros de cela com um sorriso maligno no rosto. Naquele momento todos entenderam o que ele queria dizer.
— Eu estou dentro — disse Artemis, depois de avaliar a expressão sorridente no rosto do soldado.
— Que ilusão a minha! — Argos abriu os braços, suspirando — Eu tenho escolha?
— Imagino que vocês irão nos armar — disse Artemis — Se é um trabalho de proteção contra as possíveis intempéries presentes na caça a um assassino, então teremos que carregar armas.
Lerry olhou para o chão e andou um passo a frente, se aproximando da cela e encarando todos eles seriamente.
— Todo mundo na parede — quando Yehan, Argos e Artemis estavam de costas para as barras de aço, a porta se abriu e se fechou assim que Lerry terminava de falar — Então você é o primeiro, garotão.
E o som da tranca soou novamente, e quando eles se voltaram Lerry havia sumido com Elodin. Então eles repensaram sua situação novamente e concluíram que não havia melhorado muito. Pois eles ainda estavam sob custódia. E eles tinham um último trabalho.
          Antes de irem para a forca.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte IX

Em poucos minutos a algazarra chegava a ser incômoda até para eles, que pareciam tê-la começado. Eles não sabiam, mas a barulheira ia além do corredor, além da ala e além da prisão.
Artemis e Yehan, que até o momento haviam ficado quietos, conseguiram escutar o som abafado do alarido que havia se iniciado. Apesar de estarem no subsolo, os túneis da prisão tinham canais para circulação de ar que iam até a rua. Felizmente, para eles, aqueles canais reverberavam com ótima acústica e o som percorria facilmente as paredes até as celas mais baixas da prisão. Foi assim que Yehan e Artemis escutaram o som da baderna que se iniciara na rua.
Pessoas gritavam, cavalos corriam, vidraças se quebravam. O som de aço se chocando contra aço era o que mais chamava a atenção. Artemis pediu que os dois soldados se calassem e eles puderam discernir melhor o som que chegava através da parede.
— Isso se parece o som de espadas ou eu estou imaginando? — disse Artemis.
— Isso é o som de espadas — disse Argos — Será que é uma rebelião?
— Improvável — disse Elodin, se aproximando da parede na qual o som era mais alto — Começou na rua. A guerra chegou às ruas de Aliathra.
Dois guardas usando armadura completa com lanças em punho e espadas grandes embainhadas passaram correndo pelo corredor em frente à cela. Os quatro se entreolharam, especulativos. Todos estavam atentos. Eles ouviam os guardas gritando e repassando ordens a todo momento. As botas de aço se chocando contra o chão de pedra da ala sem janelas fazia o som reverberar por todo o corredor.
Muito embora eles não soubessem o que estava acontecendo, o alvoroço foi o bastante para reavivar aquele fiapo de esperança que eles sentiam se apagando dentro deles. Argos voltou a participar da gritaria dos presos. Viu naquele alarido uma chance de escapar dali, mas Elodin não o acompanhou. Artemis estava visivelmente apreensivo. Ele parou de brincar com as pedrinhas que encontrara e agora prestava atenção em cada ruído que entrava naquela cela. Yehan estava apático, para ele pouco importava o que aconteceria dali para frente, contando que saísse dali.
O tempo passou e nada aconteceu. Depois de muito gritar e espernear, Argos se cansou e sentou-se com as costas nas barras de aço e os joelhos dobrados. Elodin se distraiu com a sua mão novamente e se perdeu em pensamentos à medida que a algazarra foi diminuindo dentro da prisão até o som da euforia se tornar um sussurro distante. Entre o barulho da quebradeira, Argos e Elodin conseguiram distinguir o som de ordens de guerra sendo gritadas em meio ao que parecia ser o tropel que marchava para manter a ordem em lugar. Já era tarde quando tudo voltou ao silêncio novamente ou eles não puderam ouvir mais nada.
Eles já estavam deitados na palha, quase dormindo, quando ouviram o som de algo se chocando contra as grades num compasso marcado. O som vinha do lado direito do corredor, alguém caminhava lentamente enquanto batia um pedaço de alguma coisa contra as barras de aço das celas, na direção em que eles estavam. Foi como se aquilo fosse alimentasse Elodin. No mesmo instante em que percebeu que os sons estavam ficando cada vez mais altos, ele saltou de onde estava para a parede feita de barras de aço. Eles esperaram.
A velocidade das batidas foi diminuindo na mesma proporção em que foi se aproximando da cela deles, e quando a pessoa que batia nas barras finalmente chegou em frente aos quatro, eles gelaram. Artemis soltou as duas pedrinhas que tinha nas mãos e Yehan se remexeu no canto em que estivera desde quando havia chegado.
O rosto sorridente de Lerry fez aquele fiapo de esperança que havia se acendido no peito deles murchar como um miasma pútrido que acompanhava o carcereiro. Na mão esquerda ele tinha um pedaço de tábua quebrado a qual ele segurava enquanto sorria com seus dentes separados para eles. Olhou durante muito tempo para o rosto de cada um deles, sorrindo e se deleitando com o sofrimento da espera.
— Parece que alguém lá do alto está cuidando de vocês — disse ele, por fim. Fez uma pausa para ver as reações de cada um, mas ao não obter nada, concluiu que eles mesmos estavam confusos — Eu já obtive reações mais animadas de pessoas que tiveram a pena de morte adiada.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte VIII

— Você não deveria mexer a mão nesse estado em que elas estão — disse Yehan. Talvez isso piore a situação.
Elodin parou de se mexer no mesmo segundo, não por achar que o meio-elfo estava com a razão, mas por impaciência de ficar esperando alguma coisa acontecer.
— O que eu não deveria era ficar esperando o Lerry aparecer com aquele bicho chifrudo.
— E o que exatamente você procura? — disse Artemis.
— Qual falha ou imperfeição — disse Elodin, voltando aos seus afazeres — Talvez um pouco de ferrugem que nós pudéssemos explorar para quebrar as grades.
Ele dizia isso, mas, assim como os outros, ele mesmo não tinha esperanças de encontrar qualquer falha naquelas barras grossas de aço. Três fazendo o mesmo trabalho ao lado de Lerry e ele nunca havia visto nem uma tentativa de fuga daquela ala.
Apesar dos esforços em vão, Artemis decidiu que era melhor começar a fazer alguma coisa a respeito para sair dali, em vez de ficar apenas sentado conversando. Se não encontrassem nada, pelo menos o fazer alguma coisa em si já bastava para livrar sua cabeça de pensamentos desagradáveis, o que só aumentava à medida que o tempo ia se passando e a hora da morte se aproximava com o final da tarde.
Artemis se aproximou das barras ao lado de Elodin, procurando por alguma coisa que ele não sabia exatamente o que era. Nunca havia estado preso antes, e em seus anos de estudo, nunca precisara saber como era o mecanismo de tranca de uma porta. Especialmente da porta de uma prisão.
— Posso fazer isso sozinho? — disse Elodin.
Artemis suspirou impaciente e se sentindo mal agradecido, mas deixou que Elodin continuasse seu trabalho sozinho. Os outros olhavam calados e reparavam na antipatia de Elodin enquanto ele concluía que não havia nada que pudesse os ajudar a arrombar a porta da cela.
— Não adianta — disse Elodin, encostando-se às barras e se sentando no chão de palha — É inútil. Eles costumam trocar as barras de aço com certa freqüência. Nossa única chance de fazer alguma coisa para escapar daqui é esperar até o Lerry vir aqui e a gente encontrar uma forma de derrubá-lo, creio eu.
— Mas ele vai vir acompanhado daquela criatura horrível — disse Argos.
— E você não pode se esquecer que não são apenas os dois que estão aqui dentro — disse Artemis — E estamos desarmados, ainda que estivéssemos armados, não faria diferença alguma.
— Agora há pouco você estava procurando um meio de abrir a grade, agora está falando que não existe um meio de sair daqui — disse Elodin — Lerry!
Os outros, que haviam pensado que a ladainha de Elodin havia acabado se enganaram. Subitamente ele se colocou de pé novamente e recomeçou a gritar pelo carcereiro. Elodin, dessa vez, não parou tão cedo.
— Lerry! — berrou uma voz vinda de alguma cela à esquerda, mais ao fundo no corredor — Lerry!
— Lerry! Lerry, quero água — disse outra voz, dessa vez mais próxima da cela deles.
A gritaria começou, e em menos de um minuto todos os prisioneiros estavam promovendo uma algazarra que nem mesmo Elodin havia visto acontecer ali antes. O arqueiro se calou e olhou para seus companheiros de cela com um sorriso sinistro no rosto que os outros não entenderam. Não era o que ele estava pretendendo, mas já era alguma coisa.
— Selvagens — disse Artemis. O tom de desprezo na voz era evidente.
— Provocação é uma arte — disse Elodin. Ele se lembrou dos momentos que precediam o início os combates dos quais participou pelo rei, antes de ser taxado como traidor. Lembrou-se dos corajosos que quebravam a formação, caminhando até o centro do espaço entre os dois exércitos que se encaravam e fazia todo tipo de provocação contra os inimigos. O exército que ataca primeiro perde a vantagem de manter a posição.
Argos teve o mesmo pensamento que Elodin, quando na linha de frente, começavam a bater as espadas contra os escudos para fazer barulho e assustar o inimigo. Argos gritou palavrões, xingou Lerry de todas as formas que conseguiu imaginar e a sacudir as barras de aço, tentando fazer o máximo de barulho possível.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte VII

— Yehan — disse Artemis, durante certo momento após encarar longamente o meio-elfo — Eu não conheço muito bem os homens de sua terra, mas todos aqueles que eu vi ou encontrei não costumavam usar esse tipo de vestimenta.
— A bem da verdade é que há muito não tenho feito parte da sociedade ou estado na companhia dos homens — disse Yehan. Seu rosto trazia os traços rudes dos homens e os traços finos e belos dos elfos num misto perfeito entre imperfeição e suntuosidade. Mas suas roupas de algodão, surradas e cheirando a ervas, bem como os calejados pés descalços despertavam a curiosidade de quem o avistava — Deve ser por isso, talvez seja esse o motivo pelo qual eu esteja aqui hoje. Talvez o rei não goste do povo do campo.
— O rei não liga para o povo do campo, contanto que os camponeses paguem seus impostos em dia — disse Elodin, quase num resmungo — Eu deveria ter ofertado a minha pilhagem que fiz durante o ataque ao rei. Talvez assim ele tivesse poupado meus dedos e minha vida.
— Mas o que me diz de você? — disse Yehan.
— O que você quis dizer quando disse que não está na companhia de homens? — Artemis ignorou a pergunta.
— Eu tenho vivido de forma reclusa — disse Yehan. E com isso, ele pretendia que Artemis encerrasse o assunto por ali.
— É um eremita? — disse Artemis, não percebendo o desconforto do outro.
— Por assim dizer.
— Já ouvi dizer sobre várias pessoas que pareciam viver dessa forma, mas nunca pensei que passassem de boatos.
— Você ficaria surpreso com a quantidade de fatos que vão além da boataria que há por aí — disse Elodin.
— Deve ser por esse motivo que ainda existam pessoas como eu vivendo dessa forma — disse Yehan — Mas a verdade é que os xerifes e comandados não gostam de pessoas que não pagam impostos, como lembrou acertadamente o Elodin.
— Realmente faz todo sentido — disse Artemis.
Artemis era curioso. Vindo de uma família de nobres, era um diplomata bem sucedido em Aliathra, cidade onde cresceu e viveu durante toda a sua vida, estudando História, Geografia e, o seu preferido, pessoas e suas relações. Vindo de uma família de eruditos, não chegava a ser um especialista, mas recebera aulas de piano e interpretação poética desde os seis anos de idade.
— Como você consegue? — disse Yehan. A princípio ninguém entendeu ou percebeu para quem ele estava falando. Era a primeira vez que Yehan tentava se enturmar com seus companheiros de cela, mas logo perceberam que ele olhava para a mão mutilada de Elodin.
— Como eu consigo o quê?
— Você parece estar agüentando bem — disse Yehan — apesar da sua injúria. Seus dedos ainda estão sangrando — Elodin o encarou com um olhar cético durante algum tempo antes de responder alguma coisa. Pensou em retirar as bandagens e mostrar o ferimento aos outros. Ele mesmo estava curioso para vê-los, mas reteve aquela idéia.
— Depois que cortaram meus dedos eles encostaram ferro em brasa na ponta deles — disse Elodin, se lembrando dos momentos de pavor que havia vivenciado. Ele fez uma pausa, perdido naquele momento no tempo que não parecia ter acabado ainda. Os outros apenas o observaram — É claro que não fizeram o serviço direito de propósito. Não queriam que eu fosse agonizante por falta de sangue para a forca. Me queriam são na hora minha morte. A brasa estancou a maior parte do ferimento, mas ainda está sangrando.
         Ninguém disse nada por alguns segundos.
— Mas de que adiantaria? — disse Elodin, completando seu raciocínio — Eu estou indo para a corda, de qualquer forma.
— Muito bem lembrado, meu amigo — disse Argos.
— Embora a gente esteja nessa situação — Artemis falou num tom de voz muito baixo, calando Argos e Elodin que começaram a falar ao mesmo tempo — eu não consigo deixar de acreditar que alguma coisa vai acontecer e nos tirar daqui.
— Não interessa. Nós temos que procurar um meio de sair daqui — disse Argos, completando o que havia começado a falar.
Elodin não era de conversa. Acima de tudo, ele agia. Foi por isso que deixou a conversa de lado e começou a procurar por alguma falha que pudesse servir para arrombamento ou qualquer coisa que eliminasse a porta como obstáculo. Artemis ficou observando Elodin enquanto ele passava a mão pelas barras de aço e pela fechadura na porta. Ele parecia ter técnica naquilo que fazia, ou conhecia as deficiências das portas daquela prisão por já ter trabalhado lá.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte VI

— Você foi jogado na ala dos condenados à morte — disse Elodin, se intrometendo na conversa novamente — Você já está morto.
         — Fui jogado aqui sem julgamento e sem aviso — disse Yehan, cheio de ódio — Acho que eles queriam alguém para culpar pelo que estava acontecendo na floresta, e eu estava no lugar errado na hora errada. E o rei ainda tem a audácia de auto proclamar um rei misericordioso.
         Ele fez força e se levantou espanando a palha que havia grudado na sua roupa de algodão, depois caminhou para um canto da sala, para longe de Argos e de qualquer outro que estivesse próximo de si.
         — Um velho poeta que costumava freqüentar os jantares oferecidos por meu pai costumava dizer que o maior claustro do homem é ele mesmo — disse Artemis de repente, quando Yehan se sentou — mas hoje eu tenho certeza de que ele estava bastante errado.
         — Essa deveria ser uma informação útil? — disse Elodin, deixando o mau humor transparecer outra vez, então ele se voltou a encarar o corredor mais uma vez — Esse novo amiguinho do Lerry fez meu plano de sair daqui se desmantelar por inteiro.
         — Eu suponho que essa sua gritaria tenha alguma utilidade, então — disse Artemis — Se a gente ao menos conseguisse contato com alguém de fora daqui.
         Ele começou a dizer, mas sua voz morreu no meio da frase. Um silêncio aterrorizante se apossou da cela e, com exceção de Elodin, os prisioneiros se encaravam com desconforto estampado nos rostos cansados da guerra de toda a situação que os havia colocado ali.
         — Efetivamente nós precisamos sair daqui — Argos resolveu quebrar o clima de tensão. Ou pelo menos tentou — uma vez que todos nós estamos aqui por motivos injustos.
         — Todos concordamos com você — Artemis falou sem tirar os olhos das pedrinhas no chão de palha.
         — Nós precisamos descobrir como passar pela criatura do Lerry.
         — Não — disse Artemis, então ele soltou as pedrinhas e olhou para as barras de aço em que Elodin se encostava tristemente — Não entendo muito de estratégias de combate, mas creio eu que precisamos pensar em um passo de cada vez. Precisamos pensar num meio de sair daqui de dentro.
         — E você conhece alguém de fora que possa nos ajudar de alguma forma? — disse Argos.
         — Conheço uma dúzia de famílias que poderia nos ajudar — disse Artemis — Mas de que forma isso poderia ser útil? Eles estão a uma fronteira de distância, do outro lado da Faixa de Lurc.        
Aquela pequena parte do mundo estava em guerra naqueles dias. Entre os dois reinos em combate, uma faixa de terra dominada por orcs era tudo o que os separava do conflito direto. A Faixa de Lurc, por direito, pertencia a Valveth, o reino a leste, e ao tentar retomar o que lhe pertencia de volta, o rei causou a desordem na vida dos orcs e na do rei de Aliathra, o reino do outro lado da Faixa de Lurc.

— Sinceramente, eu estou desesperado — disse Artemis. O tempo não parecia passar debaixo da terra, quando não se tinha uma referência por falta de janelas. Elodin voltou a encarar os dedos cortados e as bandagens vermelhas com seu sangue. Ao mover-se, o aleijado chamou a atenção de Artemis — Vocês dois já se conheciam, não é? Argos e Elodin?
— De fato. Nós pertencíamos ao mesmo regimento no exército do rei — disse Argos.
— E por que cortaram os dedos dele e não os seus?
— Não se deixe enganar apenas por aquilo que você consegue enxergar — disse Elodin, se voltando para o nobre, antes que Argos falasse por ele — Eu fui torturado por Lerry após a captura. Queriam informações de quem mais estava envolvido na traição, e o exército de Valveth emprega bons torturadores para o interrogatório. Mas no final das contas, nada disso importa agora — ele ergueu a mão direita, mostrando as bandagens em vermelho vivo — é isso o que eles fazem aos arqueiros capturados. Sinceramente eu não sei por que me deram a pena de morte.
— Isso é bastante inteligente — Artemis parecia surpreso — Até óbvio, devo dizer.
— Nós estamos de conversa e precisamos arrumar uma forma de sair daqui — disse Argos, antes que Elodin se enfurecesse com o comentário de Artemis.
— Tudo o que nós podemos fazer é sentar e conversar até que alguma idéia apareça — disse Artemis. Yehan apenas observava, calado e aparentemente distante.
Novamente, e por longo tempo, dessa vez, eles fizeram silêncio e se esqueceram uns dos outros ali na cela. Elodin, por vezes, alternava entre encarar por longo tempo o corredor e seus dedos cortados. Ficou por muitos minutos, os quais ninguém se preocupou em contar, em pé, encostado nas barras de aço, até que, por fim, se sentou e chamou a atenção dos outros. Mas ninguém falou nada. Argos e Artemis haviam se cansado de falar com ele. Era melhor deixar a raiva passar lentamente do que ele descarregá-la por completo ali mesmo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Peidinho na hora errada


Véeeeeeei do céu... eu ri demais!

Montanha Russa em Salvador


Comentário: UAEHUEAHUEAHUEAHAUEHEAUHEAUHEAUHEAUHEAUHEAUH

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte V

Argos ajudava o homem de orelhas pontudas a se levantar. Foi só então que Argos percebeu que ele era o filho legítimo de homem e elfo. Ele usava roupas sujas de algodão e todos os seus pingentes haviam sido confiscados depois da captura.
                — Você está bem, bom homem? — disse Argos, oferecendo o braço para que ele se apoiasse e ficasse de pé, mas o meio-elfo se ajoelhou.
                — Confesso que já estive melhor — disse ele, então respirou fundo e conteve a raiva que sentia — Meu nome é Yehan.
                — Yehan. Muito prazer. Meu nome é Argos — disse o soldado. Ele fez uma pausa e esperou os outros se apresentarem, mas isso não aconteceu — O que o traz até aqui?
                Yehan lançou um olhar indeciso para Argos. Aquela não era exatamente o tipo de pergunta que se esperava ser feita dentro de uma prisão enquanto se espera pela forca.
                — Lerry me traz até aqui — disse ele, não conseguindo se conter de frustração. Elodin gargalhou alto e Artemis não escondeu o sorriso que se formou em sua boca fina. A expressão de surpresa no rosto de Argos fez Yehan se arrepender de ter falado aquilo — Tive alguns desentendimentos ao redor da cidade, mas nada que eu não devesse fazer ou que nenhum de vocês não o faria.
                — Então você foi enganado e jogado aqui sem motivo também? — disse Artemis.
                — É claro que você não fez nada que nenhum de nós o faria — disse Elodin, esquecendo a graça da piada e deixando seu mau humor voltar acompanhado por puro sarcasmo — Aparentemente eu traí o rei sem nenhuma explicação plausível. Devo ter feito por pura diversão. O que mais eu não faria?
                Yehan olhou para ele sem entender o que ele queria dizer, e quando concluiu que o aleijado estava desabafando consigo mesmo, seus devaneios foram interrompidos.
                — O senhor foi brindado com a pena de morte também? — disse Argos.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte IV

Lerry virou o rosto para o corredor de onde tinha vindo e assobiou alto. O som de cascos se chocando contra as pedras do chão do corredor preencheram todo o ambiente. Os passos vinham na direção da cela, claramente para onde Lerry o havia chamado.
                — Ele foi um presente de um amigo nosso — disse o carcereiro — Iak é uma criatura que é descendente dos senhores do mundo antigo, e ele tem muitas habilidades. Uma delas, e particularmente um das que eu mais gosto, é a perícia em colocar arqueiros traidores do rei no lugar onde eles deveriam estar.
                Lerry começou a falar bem humorado, mas, perto do final, sua voz já beirava a raiva e o mal humor. Ele estava quase gritando.
                Iak era mais alto que Lerry. Seu par de chifres localizado na fronte da cabeça quase raspava o teto alto. Ele se parecia muito com as figuras de minotauro que ilustravam os livros de criaturas que os generais mostravam aos soldados rasos recém alistados no exército. Iak trazia uma espada muito maior do que qualquer outra espada que qualquer um ali havia visto. A lâmina era larga e terminava em uma ponta quadrada, como se tivesse sido mal forjada. Iak era mais alto do que um homem normal, mas não chegava a ser exatamente do tamanho de um minotauro. Ele usava uma saia de escamas de aço que pesava só de olhar. Ela havia sido pintada de vermelho para combinar com a cor de sua pelagem, que era tão ruiva quanto o pouco de cabelo que restava na cabeça de Lerry.
                Ao ver a criatura avançar para perto da grade e perceber que Lerry não era tão grande quanto as pessoas imaginavam ser, Elodin recuou instintivamente. O carcereiro sorriu ao ver que a presença impactante de Iak cumprira com seus objetivos. Lerry estava tão tranqüilo e confiante que ninguém faria nada para escapar que não esperou Elodin ir para a parede para abrir a cela. Ele sorriu arrogantemente para os prisioneiros e mostrou seus dentes separados.
                O raquítico homem que Lerry vinha segurando por todo esse tempo foi jogado na cela como se fosse um monte de pano para ser lavado. Argos se voltou para ajudá-lo a levantar assim que a grade foi fechada e Lerry e Iak observavam o que aconteceria em seguida. Foi só então que o magro homem de cabelos castanhos claros se levantou e olhou para Lerry. Os olhos verdes fitando-o com raiva.
                — Ele vai aprender a respeitar mais as autoridades agora — disse Lerry. Nesse momento, quando ele mal havia acabado de falar, Elodin avançou para a grade novamente.
                — Eu sempre soube que você era um capacho, Lerry — disse ele, segurando com força as barras de aço. Chegou a sentir os dedos doerem, mas manteve-se firme e não se importou quando o sangue voltou a escorrer e encharcar as bandagens em sua mão direita — Mas eu não sabia que era tanto.
                Lerry ignorou o comentário e se retirou da frente da cela, seguido de perto por Iak.
                — Você pode falar o que quiser, Elodin — disse Artemis — mas quem está com a corda no pescoço somos nós.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte III

— O que o traz a essa cela? — disse Argos, depois de um tempo absorto em pensamentos enquanto a sala mergulhava em silêncio.
                — Eu tive meus problemas na minha terra — disse Artemis. Ele iria completar alguma coisa a mais, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, quando abriu a boca para falar, Elodin gritou por Lerry.
                Elodin gritou incansavelmente por alguns minutos até que o carcereiro entrou em seu raio de visão em frente à cela. O aleijado recuou dois passos, receoso de que o grandalhão fosse fazer alguma coisa com o machado que trazia na mão direita. Na esquerda ele carregava um farrapo de gente pelo colarinho, que o seguia sendo arrastado pela mão forte de Lerry.
                Lerry não era exatamente um homem que se possa taxar de gigante, mas era mais alto do que a grande maioria das pessoas. Era calvo, e os poucos cabelos que lhe sobravam eram ruivos e ralos. Ele costumava esboçar um sorriso simpático acentuado pelos dois dentes separados na frente da boca. As pessoas riam pelas costas dele por causa dos dentes, mas Lerry tinha plena certeza de que seus dentes separados eram um charme incomum.
                — Todo mundo na parede — disse ele.
                Com alguma resistência, Argos se levantou e virou-se para a parede em que estivera encostado esse tempo todo. Artemis soltou um suspiro impaciente, dando a entender que não faria nada para escapar enquanto Lerry atirasse o novo prisioneiro para a cela. Apesar da sua impaciência transparente, o carcereiro não moveu um único dedo enquanto não estivessem todos com as mãos na parede oposta às barras de aço.

Elodin, contudo, não saiu do lugar e continuou encarando aquele que um dia foi seu amigo e companheiro de trabalho naquela masmorra.
                — Elodin ­— cansado, Lerry pediu a ele. O carcereiro soube, desde quando recebera ordens de prender o amigo, que teria aquele tipo de problema a partir do momento em que o prendera naquela cela. Elodin sempre fora o valentão do pelotão e o mais impetuoso, sendo às vezes estúpido em certas ocasiões. Ele não se surpreendia de agora estarem em lados opostos do cárcere.
                — Elodin — ele repetiu — Parede.
                — Você me conhece, Lerry — disse Elodin, sem sair do lugar — Eu não fiz nada. Alguém infiltrado passou todo mundo para trás e nos acusaram injustamente.
                — Você também me conhece e sabe que fui treinado para ignorar esse tipo de ladainha.
                — Eu não me importo para quê você foi treinado — disse Elodin, agora impaciente e cheio de raiva — Eu vou sair daqui passando por cima de você.
                Elodin continuou encarando o carcereiro, esperando um dos sorrisos maliciosos e arrogantes de Lerry, mas se surpreendeu ao receber uma resposta seca e séria.
                — Você sabe que não pode passar por mim — disse ele — Parede. Agora!
                — Ou o quê? Vai me prender numa cadeira outra vez? Porque é só assim que consegue bater em alguém?
                — Eu lhe corto o dedão — Artemis esboçou um sorriso e escondeu o rosto ao ouvir aquilo.
                — Eu não vou sair daqui — dito isto, Elodin se aproximou das barras novamente e ofereceu o rosto a Lerry.
                — Nesse caso — disse Lerry, ficando impaciente — eu acho que é um momento propício para você conhecer o nosso novo amigo.

Ato I - O Ceifeiro do Capuz Carmesim - Parte II

Elodin não se moveu quando ouviu a pergunta e continuou calado, tentando visualizar qualquer coisa que pudesse o ajudar com qualquer possibilidade de fuga. A raiva que havia dentro dele o impedia de manter qualquer contato com os outros ali.
                — Seu nome é Elodin, não é? — disse Artemis outra vez.
                — É — Elodin abaixou a cabeça e encostou a testa numa das barras de aço, cansado — Elodin.
                — O que você disse que fez mesmo? —prosseguiu Artemis. Argos apenas observava, surpreso pelo amigo ter respondido — Deve ter dado um motivo bastante convincente para eles lhe arrancarem dois dedos.
                — Cumpri minhas ordens — Elodin falou com tristeza e secura. Ele olhou para as duas mãos, fechou os dedos da mão esquerda e ficou encarando os três dedos que ainda lhe restavam na outra — Eu não sei quanto a vocês, mas eu não vou ficar aqui esperando alguma coisa acontecer. Eu vou sair daqui.
                — Nós não podemos fugir daqui — disse Argos, que lançou um olhar especulativo para Artemis antes de falar qualquer coisa.
                — Não pode ou não quer? — disse Elodin, com um olhar de raiva para o amigo, mas com o corpo ainda voltado para o corredor à direita.
                — Eu não sei se você reparou no carcereiro lá fora — disse Artemis — mas ele é bem grande.
                Elodin se calou por um momento, parecendo se dar por vencido, então ele ficou calado por um tempo e segurou uma das barras com a mão que ainda tinha todos os dedos. Ele olhou para o chão de palha.
                — O carcereiro lá fora se chama Lerry — disse, por fim — e foi ele quem fez isso comigo — Elodin então ergueu a mão enfaixada em direção a Artemis — Ele é grande e lento. Argos e eu já lutamos lado a lado mais de uma vez, tenho certeza que nós podemos segurá-lo por algum tempo.
                — Mas o senhor ignora o fato de que existem algumas barras de aço separando o seu amigo de nós — disse Artemis, mais preocupado com as pedras que havia encontrado do que em argumentar com o homem sem dedos.
                Elodin ignorou o comentário e voltou sua atenção para o corredor de alvenaria iluminado á luz de velas à sua frente. Ele encostou a testa em duas barras da grade e olhou procurando por Lerry.
                — Como você quer sair daqui? — disse Argos — É impossível. Deve haver um batalhão de soldados inteiro vigiando esses corredores aqui.
                Elodin baixou a cabeça e ficou encostado na grade, observando o chão de palha, sem esperança alguma. Eles queriam acreditar que havia um meio de escapar dali, mas as alternativas que tinham sempre terminavam em Lerry e nos guardas que poderiam estar fazendo ronda por ali.
                — Por mais que você consiga correr do Lerry ainda deve haver muitos outros — disse Artemis.
                O assunto morreu ali. Elodin pareceu se dar por convencido quanto a qualquer plano de escapar dali e ficou parado ao lado da grade, observando o chão e qualquer coisa que se movimentava naquele lugar.