Estavam lá, os dois sentados no píer deserto, espectadores
solitários de um maravilhoso pôr do sol, barulhento e vermelho e laranja e roxo
tal como só no litoral ele pode ser.
Ondas gentis quebravam perto deles, por vezes
espirrando água na sola dos pés descalços. Incontáveis pássaros voavam perdidos
no horizonte, as penas brancas quebrando a luz em um brilho ofuscante.
- Nada mal pra um primeiro encontro!
- ela brincou.
- E quando teremos um segundo?
- Ah, então vai ter um segundo? -
ele não percebeu, mas ela sorriu.
- Mas é claro! Sei bem que é preciso
um terceiro antes de irmos pro quarto...
Riram. Era bom poder rir sem que ninguém
ouvisse. Ao menos dessa vez a vida não seria o espetáculo repleto de
testemunhas anônimas que é.
-
Me sinto bem com você - ele disse, assim, inseguro e sem sal.
Ela, calada, sorriu por dentro. Ele, de novo,
não percebeu.
Por alguns instantes só ouviram o som da água e
das aves. Mas não foi um momento desconfortável, já que não prestavam atenção no
tempo. O sol se escondeu mais um centímetro e a cortina da noite começou a se
abrir.
-
Eu também...
-
Você se sente bem com você?
-
Você entendeu, seu bobo! - e riram. As mãos se tocaram, entrecruzaram-se os
dedos.
-
Mas... você acha que você já está pronto?
Silêncio novamente, as palpitações de cada
peito mais audíveis que o mar.
-
Não sei... acho que sim... talvez...
Ela percebeu como era bonito o jeito com que a
brisa bagunçava o cabelo dele e como ele tinha um brilho no olhar enquanto
contemplava algum ponto distante no horizonte.
-
Não sei se estou, mas é o que eu quero! - concluiu e seu olhar se voltou pra
ela. A pele tão fina e tão salpicada de vermelho pelo sol.
Os olhos e sorrisos dos dois se encontraram por
um instante. Os olhos se desviaram, os sorrisos não.
-
Sei que ainda está bem recente, mas gosto tanto de passar meu tempo com você! -
ele olhava pra ela. Ela sorria tímida, sem olhar de volta.
-
Eu acredito em você, mas é que tenho medo de me machucar... - ela falou, o
sorriso murchando.
-
Mas não vou te machucar! - ele acariciou o cabelo dela. Suspiraram e ele a
acolheu em um abraço.
-
Quero acreditar em você, - ela já acreditava - mas você não se sente estranho?
- Bom, sinto que posso dizer “eu te
amo” infinitas vezes na vida e ser sincero em todas elas - e riu. Ela riu, com
interrogação nos olhos, achando a piada inapropriada. - Até que eu encontre
quem mereça minha última declaração...
-
Ah é? E quantos corações partidos você ainda vai deixar pelo caminho antes
disso?
- Não sei. Mas sete sempre foi meu
número favorito.
Riram, sem graça. Ela ainda um pouco
desconfortável. Ele, idem.
Os corpos estavam agarrados, mas o pensamento vagou
cada um para um lado por um instante. O sol se escondia ainda mais, seus raios
brilhando forte, em ângulos cada vez mais escassos, na linha reta do fim do
oceano. Os anseios ainda a perturbariam um sem número de vezes, mas ela tentava
não acreditar nisso. Contava os dias para essa sensação ruim passar. Os
pensamentos dele eram mais rasos. Resolvido, puxou-a para si.
Subtraída a vergonha, somaram-se os lábios, multiplicando
as expectativas do quanto de suas vidas ainda iriam dividir.
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