Não há dama no mundo que não mereça defesa
e não há ofensa tão leve que não valha um duelo. Bom, na verdade não é bem
assim.
Uma
das coisas que há meses gostaria de postar aqui e venho protelando é contar a
história de Évariste Galois, matemático francês que viveu no século XIX. Talvez
tenha vivido não uma vida, mas um terço de uma. Morreu aos 20. Mas levou vida
intensa.
Jovem
brilhante, ativista político, algumas vezes na Bastilha. Pegava em armas para
defender seus ideais. Na sua curta vida produziu algumas ideias importantes
para a matemática, como a Teria de Grupos, a qual conheço apenas
superficialmente, com aplicações até na química.
Mas
a ideia não é pintar um relato biográfico. Não quero falar da vida de Galois.
Quero falar da morte. Apesar de haver algumas lacunas a serem preenchidas nessa
história, pode-se dizer que haja duas versões:
VERSÃO 1 – o que diz a História (ao menos a
versão mais aceita)
Galois era apaixonado por uma jovem,
prometida de um soldado. Ao que parece a jovem em questão teve alguns
problemas, que veio a confidenciar ao matemático. Ele tomou suas dores e
desafiou o noivo para um duelo. Já prevendo morte certa, enviou uma carta a um
amigo próximo contendo um rascunho geral das ideias de seus trabalhos, com
versões redigidas previamente desses trabalhos anexadas. Lutou e morreu.
VERSÃO 2 – como ouvi a história pela
primeira vez
Galois era apaixonado por uma cortesã de
Paris. Tendo a mulher sendo ofendida por um rapaz desconhecido, Galois tratou
de defendê-la e desafiou o ofensor a para um duelo. Veio a saber depois que o
adversário era o maior duelista da época e que já havia matado um sem número de
jovens em duelos como o que travariam. Passou a noite em claro escrevendo todas
as suas ideias em uma carta, enviada na manhã seguinte a um amigo. Lutou e
morreu.
Não sei quanto a
vocês, mas prefiro a segunda versão. É mais bonita, mais romântica. Mais
inspiradora. Sugere que uma única noite pode ser significativa por uma vida,
desde que o tempo seja bem utilizado. A ideia de um jovem, pena em punho,
redigindo coisas épicas à fraca luz de uma vela (e só uma) é grandiosa em sua
simplicidade. Imaginar erros rabiscados – corrigidos logo adiante, letras
corridas – mas firmes... ouso até enxergar umas manchas de café aqui e ali, só
pra compor a cena.
Sinto que falta
romance ao mundo, uma cor diferente. Algumas vezes a história tenta eliminá-lo
com a crueza dos fatos. É o trabalho deles, afinal. Mas, ainda que nada contra
todos os fatos, ainda que eu estivesse lá pra ver, ia preferir a segunda
versão.