sábado, 31 de março de 2012

Cartas Perdidas

Estava frio e os poucos trapos não faziam barreira digna ao ventou gélido. As mãozinhas magras tremiam, tentando tirar calor do cerrar dos próprios punhos. A fome apertava enquanto caminhava em busca de comida; aumentava a despeito do cheiro podre. Não havia mais nojo. Havia a necessidade do corpo, e só.

O corpo solitário e subnutrido se arrastava pelo descampado, zumbizando em torno de sacolas frescas. A maioria delas, contudo, já estava apinhada de gente, seus irmãos, que o rechaçavam de lá. Viu logo à frente uma sacola, rasgada e revirada, sozinha. Andou descalço até lá e se agachou, juntas estralando. Revirou e revirou, mas lá não havia nada fresco que lhe melasse a mão. Papéis, apenas. Num deles, um coração desenhado.

Era bem moço ainda, mas já entendia ironia. Aquela com que a vida sempre se lhe apresentara. De que vale um coração a um estômago vazio? Mas algo, talvez a inocência que ainda habitava aquela criança, talvez a promessa de memórias ternas ou coisa outra qualquer fez com que tomasse a carta - pois era uma - para si.

Desembrulhou o papel com alguma avidez. Era daqueles com pautas claras, com as bordas cuidadosamente destacadas, mas em si sóbrio. Uma caligrafia ocupava toda a sua fronte, caprichada como quem toma cuidado ao falar. Mas não pareciam palavras muito pensadas; pareciam palavras que brotavam redondas e belas, mas que deveriam soar dessa mesma forma, com perfeição. Abriu mais uma carta e sentiu nas palavras a mesma tepidez e o mesmo cuidado. E havia uma data e não era muito distante da anterior. Abriu mais e mais folhas, todas elas com a mesma caligrafia, todas elas exalando o mesmo conforto de lembrança boa, todas com o mesmo sentido... será? Não sabia ler.

O estômago roncou, puxando-o de volta à realidade. Guardou bem escondido a sacola em um canto, para se um dia quisesse olhar tudo aquilo outra vez. E seguiu revirando o lixo, buscando comida ou, quem sabe, outro amor perdido.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Conversa Antiga

Algum dia, anos atrás, ouvi falar de Jorge Luis Borges, famoso escritor argentino. Mas não do modo como, em geral, ouvimos falar de grandes escritores do passado. Li em algum lugar que ele escrevia sobre situações absurdas, com um quê de fantasia permeando toda a sua escrita. Isso ficou guardado na minha cabeça, como que curiosidade traduzida em vontade de ler.

Eis que um dia, olhando livros à toa num livraria, me deparo com O Aleph, um livro de contos desse autor. Comprei.

O primeiro conto era magnífico, daqueles com uma história interessante e com divagações de sentido forte e bastante impactante. Não era apenas uma leitura; era um convite a um pensamento surreal, mas ainda assim lógico. Mas nem tudo escapava do concreto. Alguns contos narravam fatos históricos, mas de uma maneira bastante peculiar e analisando a situação sob pontos de vistas interessantíssimos. E Borges, acima de tudo, sabe como construir belíssimos finais para seus contos.

Mas esse início de texto é mais uma digressão que um direcionamento ao tema. A conversa de hoje é outra. E tenho uma quase certeza pungente de que já a tivemos antes.

É aquele papo sobre o significado por trás dos textos. Sobre como as pessoas atribuem sentidos os mais variados a passagens por vezes ordinárias. Já discutimos sobre isso, não me recordo se com ou sem cerveja. E não sei muito o que penso a respeito dessa abordagem de análise literária. É certo que toda forma encerra um conteúdo, mais ou menos superficial. Mas como saber se conseguimos acessar o conteúdo certo? Ou mais: o conteúdo certo é apenas o premeditado pelo autor?

Li hoje um texto de Borges sobre H. G. Wells (escritor de “Máquina do Tempo” e “A Ilha do Dr. Moreau”, entre outros) que acabou caindo nesse ponto. E achei o ponto de vista dele muito interessante:

“(...) A obra que perdura é sempre capaz de uma infinita e plástica ambiguidade; é tudo para todos, como o Apóstolo; é um espelho que torna patentes os traços do leitor e é também um mapa do mundo. Além do mais, tudo deve acontecer de modo evanescente e modesto, quase a despeito do autor, que deve ignorar todo simbolismo. (...)

Isso carrega um sentido interessante e para que eu ainda não havia atinado. A verdadeira mensagem por trás de um texto é desconhecida, sendo talvez até mesmo inacessível (Zé Ramalho?). Os bons textos, todavia, são os que permitem uma infinidade de suposições. Nesse caso, o sentido original – ou qualquer sentido atribuído - assume pouca importância.

Em todo caso, há alguns anos concluí que furta-se ao sentido parte da beleza: aquela que é própria à forma. Mas ainda assim, tive vontade de compartilhar com vocês esse ponto de vista de que a possibilidade de infinitas interpretações ás vezes é mais importante que o sentido real.

Miss all you guys!

P.S.: Comprei uma máquina de fazer pão. É quase a realização de um sonho de infância.

P.P.S.: Acabei pensando bastante sobre a minha vida, aqui em Houston; sobre como talvez eu precise mudar alguns objetivos da vida para que outros se concretizem. Talvez um dia eu escreva sobre isso aqui.

quinta-feira, 22 de março de 2012

E o Top, cadê o Top???


Peão em inglês é Top.
Então, meu caro, sem mais rodeios: onde vc estava no último domingo de playança?

=D (atualizei! curtiu Tops? hahahah em breve eu posto direito...)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Já assistiram O atirador?

Com Mark Wahlberg? Foi inspirado em mim.