domingo, 8 de julho de 2012

Déjà vu



                   Talvez digam por aí que todo ser humano carrega implícito o mesmo subtexto em toda sua obra. Não se conhece a universalidade dessa proposição, mas aquele homem era exatamente assim. Era poeta e escrevia sempre a mesma coisa. Cambiavam-se os verbos, os substantivos e quiçá os adjetivos, esses últimos os culpados por tantos suspiros inocentes. Trocavam-se as sílabas a serem rimadas ou o ritmo. Mas o cerne persistia.

             Com o mesmo corpo, com uma ou outra roupa ou maquiagem, ele era capaz de desmaiar donzelas, inspirar os mais jovens e até conquistar favores políticos. Obteve sucesso, naturalmente; e dinheiro e fama e renome.

                No fim, talvez não importasse que alguém dissesse sempre o mesmo. O crucial pareceu ser perceber que todos queriam ouvir as mesmas coisas.

3 comentários:

Isso me lembrou uma das primeiras músicas que eu escrevi que acabou não fazendo sucesso na turma huahau Um dia eu canto ela pra você outra vez.
No mais, fiquei me perguntando no que ou em quem você tinha se inspirado dessa vez mt.

Não tô lembrado dessa música!
E esse texto foi meio avulso. A ideia do personagem apareceu do nada na minha cabeça. Mas a conclusão apareceu, talvez, quando eu relembrava algumas coisas da minha vida. Existem algumas situações em que há apenas uma coisa a ser dita e, em geral, é o que as pessoas querem ouvir. E eu não curto muito esse tipo de situação.
Talvez isso tenha reaparecido na minha cabeça na figura de um célebre poeta de tão limitadas mensagens...

Isso me faz pensar que é de certa forma uma metáfora dos nossos vídeos sobre nós mesmos. Sempre os mesmos personagens, mudando de roupa e nem sempre de assunto, mas sempre num só lugar: na varandinha.

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